O ciclone extratropical que passou pelo Rio Grande do Sul entre esta terça e quarta-feira (10) provocou a maior enchente já registrada no Gruppelli. O Arroio Quilombo – severamente assoreado – que corta essa comunidade, transbordou com rapidez após as fortes chuvas desta madrugada na região, inundando casas, lavouras, estradas, além das estruturas da família Gruppelli – incluindo o restaurante, as cabanas de hospedagem e o museu. Junto, o campo de futebol do Grêmio Esportivo Boa Esperança ficou totalmente debaixo d’água, comprometendo o campeonato colonial que começou no último domingo (7).
Segundo Amanda Gruppelli, os primeiros alertas começaram a surgir por volta das 17h de terça-feira (9), quando vizinhos da cabeceira do arroio informaram que uma enxurrada intensa estava vindo da região de Canguçu. A partir das 18h30, o nível da água já subia com muita força. “Às dez, a água já estava dentro de casa, no museu e no posto de saúde. Às 3h da manhã foi o pico, pelas marcas e pela correnteza, foi mais forte do que a enchente de 2016, que até então, era a maior da região, desde 1954” relata.
O nível da água começou a baixar somente ao meio-dia desta quarta, mas os danos no grupo familiar foram extensos. O restaurante da família teve móveis danificados, as cabanas de hospedagem foram invadidas e o museu sofreu alagamento antes que o acervo pudesse ser retirado. A Universidade Federal de Pelotas (UFPel) já está em contato com a família para enviar uma equipe de limpeza e recuperação assim que o tempo melhorar.
Amanda também relata que o campo do Grêmio Esportivo Boa Esperança – que completou 100 anos no ano passado – também foi afetado, com as telas de proteções tombadas, copa danificada, além do gramado, que levará tempo indeterminado para se recompor. O Campeonato Colonial da ACE (Associação Colonial de Esportes), agora segue risco de interrupção.
Apesar da força da enchente, não houve registro de feridos. A energia elétrica foi reestabelecida no amanhecer de hoje, e os moradores seguem na limpeza e reorganização das estruturas atingidas. A safra do pêssego, que está em andamento, também foi danificada, além das lavouras de tabaco – ambos ainda sem números oficiais de danos, sendo possível mensurar somente nos próximos dias.
Família Gruppelli irá protocolar documento oficial
Com as fortes chuvas e enchentes ficando cada vez mais frequentes, a família Gruppelli irá protocolar um documento para formalizar as demandas do museu e da comunidade, levando à prefeitura de Pelotas e à Defesa Civil, pedindo medidas como desassoreamento do Arroio Quilombo, contenção de cheias e melhorias nas infraestruturas e estradas da região. “Toda a colônia é impactada. Turismo, esporte, comércio e agricultura. Nós precisamos ser ouvidos”, exclama.
Caminhoneiro fica preso com carga de pêssego
Além de danos materiais e estruturais, o ciclone também causou prejuízo no transporte de mercadorias. Na Vila Nova, o caminhoneiro Isaías Aldrighi relata que está com o seu caminhão carregado com 320 caixas de pêssego atolado desde às 11h da noite de terça. “Eu tentei puxar, mas não deu. Hoje de manhã encheu o arroio, e aí não teve como sair mais, arrebentou as correntes. Veio uma retroescavadeira e também arrebentou, não conseguindo tirar”, relata.
Aldrighi afirma que não sabe quando vai ser possível a retirada do caminhão, sendo necessário a troca de veículo, além da transferência da carga. Com décadas de experiência, Isaías relata que nunca havia vivido algo parecido, nem quando fazia viagens para outros estados.
