A reunião da Aliança Pelotas com a Câmara foi, antes de tudo, um retrato da nova correlação de forças no Legislativo. À mesa, a presença majoritária de vereadores de direita e de centro reforça o recado que já tinha sido dado na eleição da nova Mesa Diretora: a Casa entra em dezembro mais inclinada a exercer uma oposição firme ao Executivo. E não é um movimento pensado só para 2026, ele começou agora, usando como ponto de partida justamente as pautas ambientais e urbanísticas colocadas pelo setor produtivo.
Ficou evidente que essa nova fase da Câmara nasce de uma agenda construída em torno de temas como Compam, decretos ambientais e regras para áreas baixas. Do lado das entidades, vieram queixas sobre burocracia e demora em análises. Do lado dos vereadores presentes, a disposição de assumir esse discurso e levá-lo ao plenário, seja por projetos de decreto legislativo, seja pela pressão para reabrir discussões sobre conselhos e normas. É uma escolha legítima dentro do jogo democrático, mas ganha outra dimensão quando parte de quem hoje conduz a Mesa tem o poder de influenciar o que entra ou não na pauta.
O debate, no entanto, teria sido mais completo se a pluralidade da Câmara estivesse mais presente na sala. Dos 21 convidados, apenas sete participaram. Quem abre mão de sentar à mesa também abre mão de disputar o sentido de palavras como “desenvolvimento” e “destravar”. Ainda mais em uma cidade que já sentiu, recentemente, o peso de eventos climáticos extremos. Preservar o meio ambiente e planejar melhor o uso do território deixou de ser pauta lateral para virar condição básica de qualquer projeto sério de crescimento. Não se trata de colocar economia contra meio ambiente, mas de reconhecer que ignorar estudos técnicos e mapas de risco costuma apenas marcar, no calendário, a data da próxima emergência.
Fica, assim, o desenho político deste fim de ano: uma Mesa mais à direita, um setor produtivo que busca recuperar espaço nas instâncias de decisão e um Executivo que será pressionado a rever parte do seu pacote ambiental. Eu, sempre otimista, vou acreditar que o objetivo de todos os envolvidos é construir uma Pelotas que atenda às necessidades de toda a população.
Futuro em aberto
A ex-prefeita de Pelotas Paula Mascarenhas anunciou, em mensagem enviada ao grupo de WhatsApp do PSDB gaúcho, sua despedida da direção do partido após ter presidido o diretório estadual em um período que ela classifica como “conturbado, mas produtivo”. Na mensagem, Paula argumentou que irá conversar com amigos e parceiros para definir seu futuro político. O movimento abre caminho para que Paula siga o movimento de Eduardo Leite rumo ao PSD, legenda pela qual deve disputar uma cadeira na Assembleia Legislativa em 2026.
Cálculo familiar
A decisão de Jair Bolsonaro de apontar o filho 01 como candidato em 2026 não é gesto de afeto, é gesto de poder. Ao escolher Flávio como herdeiro oficial do bolsonarismo, o ex-presidente afirma que a marca tem dono e sobrenome. Governadores e presidenciáveis que sonhavam com uma direita “lavada e passada” acordam com um lembrete de que não basta concordar ideologicamente, é preciso ter a benção do clã. A liderança segue centralizada na família e qualquer projeto alternativo nasce olhando por cima do ombro.
Nas primeiras falas depois de ungido, Flávio tratou de dizer que sua candidatura tem “preço”. Falou em barganha e deixou claro qual seria a moeda: ver Jair Bolsonaro “livre, nas urnas, caminhando com os netos pelo país”. A pré-campanha do 01 entra no jogo menos como projeto de país e mais como instrumento de pressão sobre Congresso e Judiciário, trocando protagonismo eleitoral por afrouxamento das cordas jurídicas. Se vai até o fim ou não, é detalhe. O essencial foi a mensagem passada de que, antes de qualquer plano para a direita, vem o plano de sobrevivência do próprio sobrenome.