O dado é forte: 85% dos entrevistados pelo IPO dizem preferir que a Ecosul siga à frente do polo Pelotas em uma concessão-tampão. Não é exatamente um “viva à concessionária”. É o medo do vazio, na segurança das rodovias e no cofre das prefeituras. Os motoristas enxergam a rodovia como um serviço completo, mas com hierarquia bem definida: primeiro o pavimento, depois o socorro e, por último, a sinalização. Quando escolhem o tampão, estão dizendo que não querem arriscar um período de incerteza em nenhum desses três pontos.
Ao mesmo tempo, não desapareceu a irritação com o pedágio. São quase três décadas de tarifa alta para percorrer trechos curtos, de ida e volta para trabalhar, estudar ou buscar atendimento de saúde. O contrato virou personagem fixo em debates políticos e já serviu de munição contra governos de diferentes partidos, muitas vezes em discussões mais preocupadas em apontar culpados do que em encarar o modelo, valor cobrado e as contrapartidas.
Do lado das prefeituras, o medo do vazio tem número. Em 2024, segundo a própria concessionária, foram R$ 29,9 milhões em ISS repassados aos 14 municípios da zona sul. Só Pelotas recebeu R$ 4,6 milhões; Rio Grande, R$ 3,9 milhões; Canguçu, R$ 3,6 milhões; Arroio Grande, R$ 3,1 milhões. É dinheiro que entra direto no caixa, sem passar por União ou Estado, ajudando a segurar despesas em saúde, educação, assistência e infraestrutura. Em um cenário de orçamentos pressionados, abrir mão disso de uma hora para outra não é decisão simples.
É aí que o tema deixa de ser apenas técnico e entra definitivamente no tabuleiro político. Prefeitos, vereadores, deputados e entidades regionais leem o mesmo número do IPO e puxam o pedágio para seu discurso. Parte defendendo o tampão como forma de proteger usuário e finanças municipais, enquanto outros tentando manter o tom crítico à concessão, mas sem desconsiderar o peso do ISS na receita local.
A mensagem dos 85% é menos um aval eterno ao arranjo atual e mais um “não” ao vazio na pista e nas contas públicas. A região deixa claro que não quer rodovia largada, nem prefeitura abrindo mão de receita sem plano de transição. Resta à política fazer o que fugiu em boa parte desses 27 anos: discutir concessão com seriedade, equilibrando segurança, tarifa e arrecadação, em vez de transformar o pedágio apenas em palco para discursos fáceis a cada mudança de governo.
Mandato suspenso?
A pressão por respostas da Comissão de Ética sobre os casos que envolvem a vereadora Fernanda Miranda (PSOL) e o vereador Cauê Fuhro Souto (PV) fez efeito. Assim, o presidente da Comissão, Jurandir Silva (PSOL), convocou uma reunião para a próxima quinta-feira (11) para tratar dos assuntos. Fernanda responde a processo aberto após ter sido flagrada com dois cigarros de maconha em um evento de Carnaval deste ano e pode ser suspensa por 60 dias, enquanto Cauê tem parecer pela absolvição no caso da emenda de R$ 625 mil destinada a entidade em que o irmão consta como presidente. Caso a punição à vereadora seja confirmada, a esquerda poderá ficar sem uma representante em votações importantes previstas para dezembro, já que a legislação municipal não prevê a convocação de suplente em caso de suspensão temporária do mandato.
Rearranjo tucano
O vereador de Porto Alegre Moisés Barboza assume a presidência do PSDB no Rio Grande do Sul em meio à tentativa de recuperação de um partido que perdeu espaço e tenta se reorganizar no Estado. A nova executiva é construída como gesto de “oxigenação” e reposicionamento dos tucanos no próximo ciclo eleitoral. Na prática, porém, o movimento reorganiza espaços: o deputado federal Daniel Trzeciak, que alimentava expectativa de presidir o partido, fica como vice, assim como Marcelo Maranata, prefeito de Guaíba. E Paula Mascarenhas, até ontem presidente estadual, deixa o comando e ganha liberdade para discutir seu rumo, inclusive a hipótese de mudar de sigla. O PSDB tenta retomar protagonismo, mas o preço passa por reposicionar justamente lideranças fortes aqui da região desde a perda de Eduardo Leite para o PSD.