85% dos usuários do Polo Pelotas aprovam contrato temporário com a Ecovias Sul

Concessão

85% dos usuários do Polo Pelotas aprovam contrato temporário com a Ecovias Sul

Motoristas temem que Dnit não ofereça a mesma qualidade dos serviços nas BRs-116 e 392

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85% dos usuários do Polo Pelotas aprovam contrato temporário com a Ecovias Sul
(Foto: Jô Folha)

A menos de dois meses do encerramento do contrato da Ecovias Sul à frente da administração do Polo Rodoviário Pelotas, uma pesquisa feita pelo Instituto Pesquisas de Opinião (IPO) para o jornal A Hora do Sul revela que 85% dos usuários do trecho concedido são favoráveis à permanência temporária da empresa até ser realizada a nova licitação, programada pelo Ministério dos Transportes para o segundo semestre do ano que vem. E 57% não acreditam que a Administração Pública, por meio do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), conseguirá manter a qualidade atual das estradas.

O levantamento foi realizado de 11 a 23 de novembro, denominado Diagnóstico de percepção sobre os serviços do Polo Rodoviário de Pelotas – Um zoom sobre a avaliação dos usuários e as expectativas em relação ao futuro da gestão das rodovias. Foram feitas 900 entrevistas: 549 com veículos de passeio e 351 com veículos de carga/caminhão. A margem de erro e o intervalo de confiança ficaram em 3% e 95%, respectivamente.

Ao solicitar a pesquisa, A Hora do Sul buscou identificar principalmente o olhar de quem utiliza a malha para o período em que o DNIT assumirá a responsabilidade. O fim da concessão e o vácuo criado pelo atraso no leilão vêm sendo alvo de debates entre quem defende a prorrogação do contrato atual, com uma tarifa menor, e quem é contra a continuidade, mesmo temporária.

As entrevistas aconteceram nas praças de pedágio Glória, Pavão, Capão Seco, Cristal e Retiro. Também postos de combustíveis próximos e os SAUs de Cristal, Turuçu e Povo Novo serviram de pontos de coleta. Dos que viajavam no período da pesquisa, 76,8% estavam na estrada para realizar atividades econômicas: 49,1% a trabalho/negócios e 27,7% no transporte de carga.

Principais pontos

Os resultados da pesquisa revelam que a concessão é amplamente reconhecida pelos usuários como responsável pela melhoria das condições de tráfego e segurança nas rodovias da região. “A maior parte dos motoristas avalia positivamente os serviços de conservação, sinalização, socorro médico e mecânico, considerados essenciais para o conforto e a segurança nas viagens.”

Também mostram uma preocupação significativa com a possibilidade de o Polo Pelotas ficar sem gestão concessionada. Para os motoristas frequentes e profissionais, a interrupção dos serviços pela Ecovias Sul a partir de 3 de fevereiro de 2026 – data do final do contrato – representa risco à manutenção da qualidade e à agilidade dos atendimentos em casos de emergência ou pane.

Aos olhos dos entrevistados, as estradas sob cuidados da empresa são mais seguras, conservadas e bem sinalizadas quando comparadas àquelas nas mãos do governo. Dessa forma, frente ao cenário de transição, a proposta de permanência temporária da Ecovias Sul, com a redução do valor das tarifas de pedágio, tem o apoio majoritário dos motoristas, que reconhecem o impacto direto da concessão na qualidade do trecho e preferem manter o padrão de atendimento até que se conclua a licitação.

“De forma geral, a pesquisa evidencia que os usuários associam a presença da concessionária à segurança, confiança e melhor conservação das vias, expressando preocupação com a descontinuidade dos serviços”, indica o relatório.

Na análise dos elementos considerados importantes aos condutores que usam o trecho concedido, importa a boa experiência ao dirigir, com a sensação de não estarem sozinhos. “É possível observar que os usuários valorizam tudo o que reduz risco e esforço, e que garante que a viagem aconteça sem sustos e sem desgaste. Em síntese, os motoristas enxergam a rodovia como um serviço completo, mas com uma hierarquia definida: pavimento, socorro e sinalização. A segurança é o fio condutor que perpassa todos esses itens. Segurança física no asfalto, segurança de ter apoio e segurança cognitiva, em um ambiente bem sinalizado, iluminado e com boa aparência.”

Receio com o futuro a curto prazo

Sobre o encerramento da concessão daqui a 59 dias, 71,6% têm conhecimento ou ouviram falar do fim do contrato da Ecovias Sul, enquanto 59,9% têm informação de que, após isso, as estradas voltarão a ficar sob responsabilidade do governo federal.

A grande maioria – 91,6% – já utilizou rodovias sem pedágio e mantidas pela Administração Pública. Destes, 81,2% são críticos ao estado de conservação. “A comparação mostra uma diferença estrutural entre os modelos de gestão. As administradas pela Ecovias Sul apresentam predominância de avaliações positivas, com baixa proporção de críticas e média considerada ‘boa’. Já as rodovias sob gestão pública recebem mais avaliações negativas e uma média inferior, considerada ‘aceitável’. Essa análise mostra que os usuários percebem maior capacidade técnica e maior regularidade de serviços na operação privada”, aponta o levantamento do IPO. Por isso, 73,4% têm a percepção de que as estradas da Ecovias Sul são melhores que outras sem pedágio.

Nessa linha, 57% dos motoristas não acreditam que o governo federal, por meio do Dnit, conseguirá manter a mesma qualidade hoje oferecida. Das consequências que virão a partir do encerramento do contrato, 70,8% se sentem preocupados com a possibilidade de ficarem sem uma concessionária que ofereça manutenção, socorro médico e mecânico. Enquanto 85% são favoráveis à permanência temporária da Ecovias Sul, 14% são contra e 1% é indiferente.

Contra

Daqueles que se mostram opositores à permanência temporária da Ecovias Sul (14%), a pesquisa revela perda de confiança na concessionária quanto à credibilidade da proposta atual de redução da tarifa e à capacidade de manter esse compromisso. Desse grupo, 57,2% indicam, entre outros motivos, “ser apenas uma proposta inicial, depois vão aumentar de novo” e “porque o serviço prestado vai ser proporcional ao valor, iriam reduzir funcionários”.

Além disso, a relação de sugestões apresentadas pelos usuários do Polo Pelotas com medidas a serem tomadas pela Ecovias Sul para aumentar a satisfação com a concessionária evidencia que o maior motivo de descontentamento é, de fato, o custo dos pedágios. Para 43,6%, a empresa deveria diminuir o valor cobrado nas praças.

Cenário atual da concessão

A Ecovias Sul vive os últimos dias do contrato que mantém com o governo federal – ele se encerra em 3 de fevereiro de 2026. Com grande atraso, o Ministério dos Transportes anunciou apenas no final de novembro o calendário para definir a próxima concessionária. O edital deve ser lançado em maio e o leilão, em agosto. Até a definição, que pode se estender a 2027, caberá ao Dnit assumir os 450 quilômetros administrados pela empresa.

E aqui reside o impasse: o órgão não terá a mesma capacidade de investimento para manter o padrão oferecido pela Ecovias. Deixam de ser oferecidos, por exemplo, ambulância e guincho; serviço de emergência 0800; remoção de animais da pista; monitoramento das estradas pelas viaturas de inspeção; e sistema de câmeras e monitoramento.

A concessionária revelou interesse em formalizar um contrato temporário até a escolha da próxima empresa, e aplicar pedágio reduzido. A proposta é defendida por boa parte dos prefeitos da região, que temem as consequências aos municípios nesse vácuo que irá se formar até o processo ser concluído. O Ministério dos Transportes, porém, vem sinalizando ser contra alongar o contrato, optando por deixar com o Dnit o compromisso. O órgão licitou contratos com quatro empresas, que vão responder pelos serviços básicos. O processo ainda tramita. Caso nenhum recurso seja apresentado, a expectativa é que seja concluído em janeiro, véspera da mudança.

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