Comissão de ética em disputa

Opinião

Pedro Petrucci

Pedro Petrucci

Jornalista

Comissão de ética em disputa

Por

A Comissão de Ética da Câmara chegou ao fim do ano com dois processos internos de grande impacto com os prazos estourados, como a coluna trouxe ontem. No caso da vereadora Fernanda Miranda (PSOL), o relator Marcos Ferreira, o Marcola (UB), concluiu parecer sugerindo a suspensão do mandato por 60 dias, posição que recebeu voto favorável de Michel Promove (PP). Já no processo que envolve o vereador Cauê Fuhro Souto (PV), o relator Marcelo Bagé (PL) optou pela absolvição do parlamentar, mesmo após o episódio das emendas que hoje também é alvo do Ministério Público.

Os dois pareceres estão prontos, mas parados na gaveta da Comissão de Ética, à espera de uma convocação formal para votação. Quem tem a caneta para marcar a reunião é o presidente do colegiado, vereador Jurandir Silva (PSOL). Enquanto isso, a Câmara vive o contrassenso de falar em “Código de Ética e Decoro” com processos que, na prática, já ultrapassaram os prazos regimentais.

É nesse contexto que a movimentação contra Jurandir ganha contorno político mais amplo. Um grupo de vereadores protocolou requerimento pedindo a destituição dele da presidência da Comissão de Ética, sob o argumento de conflito de interesse partidário, já que um dos processos atinge diretamente uma colega de bancada. O gesto não é isolado: faz parte da reorganização da oposição, que saiu fortalecida da eleição da nova Mesa Diretora e agora testa até onde vai sua capacidade de impor agenda dentro da Casa.

Jurandir Silva preside a comissão (Foto: Fernanda Tarnac)

Dezembro promete ser o mês do “desengavetamento”. Projetos, pareceres e processos que ficaram pela metade ao longo do ano começam a ser puxados de volta para a pauta, em meio à votação das emendas impositivas e das últimas definições orçamentárias. Neste tabuleiro, a Comissão de Ética virou símbolo de quem decide o que anda, o que para e quem, de fato, está disposto a assumir o desgaste de carimbar o desfecho dos casos que marcaram a legislatura.

Emendas às claras

(Foto: Eduarda Damasceno)

Foi dia de maratona na Câmara. A Comissão de Constituição e Justiça, em sessão conjunta com a Comissão de Orçamento e Finanças, ocupou a quinta-feira inteira em um grande mutirão das emendas impositivas. Das 8h da manhã até tarde da noite, os vereadores se debruçaram sobre mais de 400 emendas apresentadas por parlamentares para o orçamento de 2026, discutindo destinações para saúde, educação, assistência social, infraestrutura e entidades da cidade. Ivan Duarte (PT), por outro lado, decidiu deixar sua fatia na mão da prefeitura.

E o calendário ainda não acabou. Em uma sessão especial marcada para o dia 14 de dezembro, um domingo, o plenário volta a se reunir para o segundo turno de votação dessas mesmas emendas impositivas, em um rito semelhante ao desta quinta-feira. A expectativa é que, com o texto mais amadurecido nas comissões, essa etapa final seja tecnicamente mais objetiva, mesmo que siga abrindo espaço para ajustes de percurso e eventuais destaques pontuais no plenário.

O processo é demorado, cansativo e muitas vezes tem cara de grande carimbo coletivo. Mas é justamente essa liturgia que ajuda a dar transparência a um instrumento que foi alvo de tanta polêmica no último ano. Se o dinheiro público vai continuar tensionando a relação entre base, oposição e entidades da cidade, que pelo menos o jogo seja jogado com regras visíveis para todo mundo.

Risco compartilhado

O Sul Resiliente, bem como os demais eventos que debateram o meio ambiente nos últimos tempos, tem gente séria, bem-intencionada e qualificada na organização, levantando dados e apontando caminhos. Portanto, nada contra. O problema não está nos eventos, está no que acontece longe do auditório: vetos a projetos ambientais com apoio de deputados da região, plano do conselho mofando em gaveta da Câmara e lobby pesado quando a prefeitura tenta botar limite em construções em áreas baixas.

Nesse jogo, a mata ciliar vira detalhe de paisagem e a cidade finge surpresa quando a água sobe, enquanto seguem plantando até onde o rio lambe e tratam banhado como oportunidade. E ainda assim, o discurso oficial é o da “modernidade sustentável”, com foto bonita e coffee break caprichado.

Se a região quiser ser resiliente de verdade, vai ter que aprender a ficar do lado de quem enfrenta essa engrenagem, não só bater palma para o painel.

Acompanhe
nossas
redes sociais