A Organização das Nações Unidas (ONU) considera a média global de 6,1 homicídios por 100 mil habitantes como referência. Pelotas, no quarto dia do 12º mês de 2025, apresenta uma taxa de 1,7 homicídio para cada 100 mil habitantes. Ou seja, pelos parâmetros internacionais, está entre as regiões consideradas muito seguras do mundo, com seis homicídios registrados até esta quarta-feira (3). Mesmo incluindo todos os Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs), a taxa subiria para 3,7. O desafio das autoridades agora é manter esses indicadores.
Para compreender o contraste, basta lembrar abril de 2017, quando seis mortes foram registradas apenas naquele mês, o mesmo número total de 2025. Aquele ano fechou com 120 homicídios, após um janeiro especialmente violento, com 11 casos. Desde que o Estado iniciou a contagem oficial dos dados, em 2002, o menor índice havia sido o de 2006, com 16 homicídios e dois latrocínios. Algo próximo só voltaria a ocorrer 16 anos depois. Em 2018 Pelotas registrou 18 homicídios, embora com 25 CVLIs, entre eles cinco feminicídios.
Para o delegado regional da Polícia Civil, Márcio Steffens, o resultado atual representa estabilidade e demonstra a eficiência das estratégias de segurança. “O indicador de homicídios é o mais importante para medir a segurança de uma região. Mostra um controle que proporciona sensação de segurança para a população. Todas as instituições trabalham para manter esses números baixos”, afirma.
Ele reforça que o combate ao tráfico e a descapitalização das organizações criminosas seguem como prioridades. “A taxa de 10 homicídios por 100 mil é uma referência universal. Pelotas está muito abaixo disso.”
O secretário de Segurança de Pelotas, major Márcio Medeiros, destaca que o cenário atual é fruto de um trabalho iniciado após a explosão da violência em 2017, marcada pela guerra entre facções. “Ficou claro que só seria possível reverter aquele quadro com trabalho integrado. Polícias, Ministério Público, Judiciário e Polícia Penal precisaram atuar em conjunto”, relembra. Segundo ele, ações como transferências de lideranças criminosas, análise permanente da inteligência prisional, saturações de área e investigações mais aprofundadas sobre a motivação de cada homicídio foram decisivas.
Medeiros explica que cada caso passou a ser detalhadamente avaliado para identificar sua natureza, como disputa de tráfico, conflitos familiares, feminicídios ou outras motivações. “Hoje, o perfil mudou, com casos pontuais entre desavenças em famílias ou cobranças de dívidas.” Ele ressalta que o método para manter o indicadores baixos não é uma fórmula pronta, mas um processo contínuo. “Os resultados aparecem, mas sabemos que o cenário pode mudar. Se mudar, mudam também as ações.”
Referência nacional
O modelo pelotense tem servido de referência. Delegações de Niterói, Bagé e outras cidades vieram ao município buscar informações sobre a experiência local, assim como Porto Alegre e Lajeado, que iniciaram projeto semelhante. “Mas para seguir o modelo é preciso compreender que ele só funciona com integração real. Não pode haver vaidades. O crime se organiza; as forças de segurança precisam estar ainda mais organizadas”, afirma o secretário.
De acordo com a titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), em Pelotas, delegada Walquiria Meder, o município é atualmente referência na redução do número de homicídios no interior. O feito rendeu à Especializada uma menção de destaque pelo Departamento de Homicídios da Polícia Civil no interior. “Dos seis homicídios registrados esse ano, temos 100% de elucidação, sendo três já remetidos ao Poder Judiciário e três que aguardam perícias ou documentos, mas que já estão com autoria inteiramente identificada”, destaca.
Na região
Rio Grande também passou por um processo de violência urbana, principalmente no ano de 2022, quando foi implementada uma força-tarefa para combater a criminalidade. Desde então, os indicadores estão na curva decrescente. Depois de contabilizar 99 mortes em um ano, a cidade está com 23 CVLIs no ano, sendo 16 homicídios, três feminicídios, três mortes em confronto e uma lesão seguida de morte. Para o titular da DHPP, Lucas Lima, os bons resultados também se devem à integração entre Polícia Civil, Brigada Militar e Polícia Penal, além da repressão qualificada voltada não apenas aos executores, mas também aos mandantes e financiadores dos crimes.
Para o advogado e ex-promotor Fernando Gonzales, os números de Pelotas são expressivos. Ele lembra que a ONU considera epidêmicas taxas superiores a 10 homicídios por 100 mil habitantes. “Se Pelotas tem mais de 330 mil habitantes, o limite aceitável seriam 30 mortes por ano. Se, em 11 meses, houveram apenas seis, é um dado de primeiro mundo”, afirma.
Comparativos
- Pelotas
- 336.131 habitantes (IBGE 2024)
- CVLIs – 13 ocorrências
- Homicídios – seis
- Rio Grande
- 198.958 habitantes (IBGE 2024)
- CVLIs – 23 ocorrências
- Homicídios – 16
