“Não é só aprender a fazer, mas entender porque fazemos o doce dessa maneira”

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“Não é só aprender a fazer, mas entender porque fazemos o doce dessa maneira”

Alessandra Ferreira - responsável pelo Projeto Doceria Escola Otroporto

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“Não é só aprender a fazer, mas entender porque fazemos o doce dessa maneira”
(Foto: Reprodução)

Sendo um espaço para formação, capacitação e democratização do conhecimento do ofício artesanal e gastronômico, Pelotas conta com o projeto Doceria Escola, uma iniciativa da Otroporto. Com ênfase, na tradição doceira da cidade, o curso totalmente gratuito e com certificação, prevê, através de atividades trimestrais, gerar renda e ampliar o acesso aos bens culturais, além de agregar formação com proteção do patrimônio.

A execução do projeto foi possibilitada através da Lei Rouanet, de incentivo à cultura, com patrocínio da CMPC. Ao longo do ano, foram quatro turmas, que contemplaram quatro cursos de doces tradicionais de Pelotas, em parceria com o Senac.

Com isso, a Doceria Escola busca auxiliar na inclusão de dezenas de pessoas da comunidade pelotense no mercado de trabalho, além da continuidade da tradição. Passando por uma atividade piloto no ano passado, esse ano a equipe direcionou o foco para aquelas pessoas que acabam deslocadas do mercado com o passar dos anos e as mudanças nas dinâmicas de emprego.

O encerramento do primeiro ano do projeto aconteceu na segunda-feira, 1º, e contou com a presença dos alunos das quatro turmas.

Para qual público foi direcionado o Doceria Escola?
Esse foi um dos projetos que nos trouxe mais alegria e satisfação em fazer, entre os diversos projetos que a Otroporto realizou neste ano. Nós fizemos um piloto dele no ano passado, só que bem nichado, com foco específico nas vagas para o público trans e travesti, através do Ministério Público do Trabalho e também em parceria com o Senac. Esse ano, com o projeto mais estruturado, nós escolhemos trabalhar com pessoas de territórios mais periféricos, preferencialmente mulheres e que fossem mais velhas, que acabam sendo, normalmente, as responsáveis pelo sustento das suas casas e famílias, e que muitas vezes ficam deslocadas do mercado quando perdem o trabalho. Focamos nisso, também, preferencialmente, mulheres negras. Fizemos o lançamento do projeto e a divulgação no início do ano e recebemos mais de 500 inscrições para 60 vagas no total..

Como é a dinâmica do curso?
Os alunos passam por duas dinâmicas de acolhimento, em dois momentos, onde o primeiro acontece na Otroporto. Eles participam de cursos de formação sobre a tradição doceira de Pelotas, com a parte mais teórica do doce. Depois, por 15 dias, as atividades são desenvolvidas no Senac. No final, cada turma teve o seu momento de certificação.

Por que a preocupação com a valorização da tradição doceira de Pelotas?
Não é só aprender a fazer, mas entender porque fazemos o doce dessa maneira. Qual a origem disso tudo? Por que a nossa cidade tem esse selo que, onde a pessoa vai, se remete ser de Pelotas com o doce? Essa formação é direcionada para que esses alunos possam entender como chegamos onde estamos, com um selo de patrimônio nacional, e ter orgulho. A ideia é fazer essa formação ser o mais democrática e acessível possível, essa é nossa preocupação.

Qual o diferencial da Doceria Escola?
Ela trabalhou e trabalha com vários eixos, não só o econômico, que é fundamental para essas 60 pessoas, mas também uma questão social de acolhimento para as pessoas em um momento que pode estar conturbado para muitas. Não só a Doceria, há outros cursos na Otroporto, que estamos realizando ao longo do ano, que foram muito produtivos. Nós fazemos essa integração, um projeto acompanhando o outro, por meio da transversalidade dos temas, e todos com a mesma ideia de entregar para a sociedade uma oportunidade, que nem sempre é econômica, às vezes é de pertencimento e troca.

Quais são os projetos futuros para a iniciativa?
A execução dos cursos nos possibilitou a compra de equipamentos. Então, a expectativa é que, para 2026, a gente consiga instalar a Doceria Escola na sede da Otroporto. Estamos terminando de adquirir alguns equipamentos, faltam alguns ajustes no prédio, que outro projeto irá nos permitir fazer. Enfim, 2026 nos promete um caminho bem bonito e, se conseguirmos o patrocínio integral, ampliaremos o número de turmas. É um projeto que a gente pretende que seja permanente na Otroporto.

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