PSB dividido pressiona Marroni

Opinião

Pedro Petrucci

Pedro Petrucci

Jornalista

PSB dividido pressiona Marroni

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Atualizado terça-feira,
02 de Dezembro de 2025 às 13:44

A relação entre o governo Marroni e o PSB de Pelotas entrou, de vez, em zona de turbulência. O acordo era simples: no segundo turno da eleição municipal do ano passado, o apoio do partido em troca de espaço no governo. Veio o pacote com duas secretarias – Esporte e Inovação – e, junto, a expectativa de parceria política minimamente coordenada. Onze meses depois, o que o governo enxerga é um vereador Cesinha operando em voo solo, com articulações próprias na Câmara e pouca sintonia com o projeto. O apoio à candidatura de Michel Promove (PP) para a presidência do Legislativo, na eleição que se abre hoje, virou o estopim de um incômodo que já vinha se acumulando.

Só que o PSB de Pelotas parece ter dois CEPs. De um lado, o PSB de Cesinha, que comanda o partido na cidade e se movimenta com autonomia na Câmara. De outro, o PSB de Rogério Salazar, secretário de Obras, quadro de ótima relação com o governo e, na prática, ponte diária com o Executivo. O texto assinado por Salazar na edição de ontem, destacando a criação do Núcleo de Estudos Socialistas e devolvendo a “militância ao centro da política do partido”, é um artigo de opinião, mas também um recado interno. Nas entrelinhas, o que está escrito é que uma parte do PSB se sente isolada e deslocada da condução de Cesinha, que estaria centralizando decisões e deixando o restante do partido assistindo da arquibancada.

Nesse clima, o governo municipal faz as contas. Depois de romper com o PP no mês passado, passou a cogitar repetir a dose com o PSB – justamente um aliado histórico do PT em Pelotas. Não custa lembrar: no primeiro governo Marroni, entre 2001 e 2004, o vice-prefeito era Mário Filho, do PSB. Nacionalmente, o partido ocupa o posto de vice-presidente da República, com Geraldo Alckmin ao lado de Lula. Ou seja, não se trata de um aliado qualquer, tampouco de uma ruptura sem custo político. Ao mesmo tempo, é ensaiada uma aproximação com o PSD, em uma tentativa de reorganizar a base depois dos movimentos recentes de Câmara.

Uma reunião no gabinete da Prefeitura, com militantes do PSB liderados por Salazar, e sem a presença de Cesinha, pretende “selar” a parceria do partido com o governo. É a fotografia perfeita do momento: o Executivo tenta reconstruir a ponte com um pedaço do PSB, enquanto o outro segue tensionado no Legislativo. Se o encontro der certo, Marroni pode até garantir um PSB de gabinete mais alinhado. Mas a crise com o líder local continua de pé. E, em política, racha mal resolvido dentro de aliado histórico não some com ata de reunião: só muda de lugar na pauta.

Vitória incompleta

Nas redes sociais, o vereador Cauê Fuhro Souto apareceu em vídeo comemorando o arquivamento do inquérito sobre possíveis destinações irregulares de emendas impositivas com olhos marejados e em tom de vitória. Só faltou combinar com o processo. O que foi arquivado pelo Ministério Público foi o inquérito cível. Afinal, como o destino da emenda foi barrado pelo Executivo, não houve prejuízo aos cofres públicos. Depois da denúncia, a verba foi bloqueada antes de qualquer possibilidade de apropriação. Na esfera criminal, a cena é bem menos emotiva. O vereador segue como réu: a investigação apontou que ele falseou informações na apresentação da emenda, o que motivou a denúncia. Uma próxima audiência está marcada para março. Só depois disso Cauê será, de fato, julgado. Até lá, o choro de alívio nas redes sociais está, digamos, um pouco adiantado em relação ao roteiro oficial do processo.

Para quem não lembra, o caso começa quando A Hora do Sul revelou que Cauê Fuhro Souto destinou uma emenda impositiva de R$ 625,7 mil para a Associação dos Amigos de Pelotas, mas usando o CNPJ da Brasil em Dança, entidade ligada ao irmão dele, para bancar reformas no Lar de Jesus e nos banheiros da praça Coronel Pedro Osório e do Mercado Central, embora a associação estivesse inapta na Receita por anos e não tivesse qualquer vínculo com construção civil. A partir daí, o MP apurou que o vereador articulou a troca de comando da entidade em cartório, tirando o irmão da presidência e acomodando aliados políticos e funcionários de um empresário da construção, e ainda mirou outras três emendas, inclusive uma para a escola de dança ligada ao pai de Cauê. Somando tudo, são mais de R$ 800 mil em recursos indicados a entidades do círculo familiar e político do vereador, exatamente esse pacote de manobras e conflitos de interesse que hoje mantém Cauê na condição de réu.

Alerta vermelho

O vereador Daniel Fonseca (PSD) levou à Casa Civil, em Porto Alegre, uma cobrança que traduz uma angústia bem real de Pelotas: a falta de efetivo do Corpo de Bombeiros. Hoje, as equipes não atendem só a cidade, mas também municípios vizinhos, o que na prática significa o risco de, diante de dois incêndios simultâneos, precisar escolher qual ocorrência priorizar – enquanto, em outro ponto, vidas e patrimônio ficam em suspenso. Como A Hora do Sul já mostrou, há estrutura parada por falta de pessoal, com guarnições no limite.

A iniciativa do vereador é importante porque mira em quem, de fato, tem a caneta para resolver o problema: o governo do Estado, responsável pelo efetivo. Equipamento, viatura, apoio logístico, o município consegue ajudar a estruturar; agora, sem gente suficiente para operar, o sistema fica permanentemente no fio da navalha. Transformar esse drama do dia a dia em pauta formal, com ofício protocolado, reunião na capital e pressão pública, é um passo necessário para tirar o tema do desabafo nas redes e colocá-lo na mesa de quem decide o tamanho do contingente.

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