A pouco menos de um ano para as eleições gerais de 2026, o Grupo A Hora deu início a uma série de entrevistas com os pré-candidatos ao Governo do Rio Grande do Sul. Os questionamentos envolvem as propostas para o desenvolvimento da região Sul, além das perspectivas para o Estado em diferentes áreas.
O terceiro pré-candidato a ser ouvido foi o Edegar Pretto, ex-deputado estadual do Rio Grande do Sul e presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Com 54 anos e natural de Miraguaí, é formado em gestão pública e foi três vezes o deputado estadual petista mais votado e presidente da Assembleia Legislativa do RS.
Por que queres ser governador do Rio Grande do Sul?
A minha candidatura em 2022 foi uma decisão coletiva do partido. Até então, éramos representados por Olívio Dutra e Tarso Genro, mas, em 2021, iniciou-se um debate sobre renovação geracional, e meu nome foi escolhido por unanimidade para representar a Frente da Esperança, formada por PP, PCdoB, REDE, PSOL e PV. Comecei a pré-campanha com 4% nas pesquisas e cheguei ao dia da eleição com 27% dos votos, num movimento de mobilização popular que sequer foi captado pelos institutos.
Aceitei ser candidato porque é uma honra representar meu partido e essa frente democrática e popular, e porque acredito no potencial do Rio Grande do Sul. Após um mandato do MDB e dois do PSDB, ficou claro que esse projeto se esgotou. Vender estatais como solução para todos os problemas não resolveu as finanças do Estado, e houve abandono de servidores, de políticas públicas e falta de apoio aos setores produtivos. Isso contribuiu para que o RS perdesse protagonismo econômico na região Sul.
Eu quero ser governador do Rio Grande do Sul porque nós queremos ver um Rio Grande alinhado com o projeto nacional do governo do presidente Lula e, com toda essa instabilidade na economia mundial, nossa economia cresce sempre acima do que prevê o mercado. Tivemos, mesmo com a imposição do tarifaço do Donald Trump, um superávit da nossa balança comercial agora em agosto de 6,1 bilhões de dólares, que, se comparado a agosto do ano passado, é 35% a mais. Abriram-se avenidas mundo afora que querem comprar a produção do nosso país; quem precisa de segurança alimentar olha para o Brasil com a segurança que nós temos aqui, de estarmos colhendo a maior safra da nossa história.
Em 2026 vamos para mais uma eleição em que o debate da nossa região, entre outros temas, segue sendo a desigualdade entre metade norte e metade sul gaúcho. Que olhar o senhor tem nesse aspecto?
O que nós queremos para a região Sul e para todo o RS é esse desenvolvimento parelho e que ninguém fique para trás, onde os mais necessitados têm prioridade nesta ordem das políticas públicas, é o que estamos pensando para o nosso Estado. A região Sul é uma região de potencial extraordinário. Nós temos aí também problemas de infraestrutura, há municípios que enfrentam problemas sérios com a questão da água, muito maiores que outras regiões do nosso Estado.
O olhar atencioso que nós queremos para a região Sul vai ser em diálogo com todos os setores importantes economicamente nessa região. Nós não temos ainda pronto, obviamente porque não deu tempo, um programa de governo para ser avaliado apenas. Estamos na construção de um programa de governo, e na região Sul quero fazer um diálogo potente com as universidades, institutos federais e todos os setores importantes para a economia da região Sul, para que a gente possa apresentar um programa de governo verdadeiro, que impacte positivamente, que as pessoas se enxerguem quando escutarem o nome do pré-candidato, que podem ter certeza de que eu vou falar das demandas que são importantes na vida dos cidadãos e cidadãs. Não temos um plano de governo pronto, mas temos uma linha traçada.
Como o senhor pensa no quesito saúde para a metade sul?
Essa é uma demanda que aparece em toda a população. Não se trata de criticar por criticar, mas de reconhecer a realidade. Foi vendido aos gaúchos que, ao privatizar as estatais, os problemas das finanças — especialmente recursos para saúde, educação e infraestrutura — seriam resolvidos. Depois de três mandatos seguindo esse mesmo modelo, praticamente toda a estrutura pública foi desmontada. Nossas fundações foram extintas, perdemos inteligência estratégica, e empresas como a CEEE foram vendidas por R$ 100 mil — um valor simbólico diante da importância que tinham. A Corsan também foi privatizada, e hoje, no processo de reconstrução pós-enchente, faria enorme diferença tê-la sob controle público.
E qual é o resultado? O governo envia à Assembleia um orçamento com déficit de R$ 4 bilhões. Não cumpre os 12% constitucionais destinados à saúde e remaneja recursos de um setor para outro sem ampliar o investimento. A situação é crítica em várias regiões, incluindo a Metropolitana e a Sul: filas intermináveis para exames e consultas com especialistas.
Precisamos cumprir a Constituição e garantir, de fato, os 12% do orçamento estadual para a saúde. Isso significa investir em todas as regiões, fortalecer o diálogo com as prefeituras e construir uma política articulada entre Estado e municípios, com foco na prevenção e na integração dos serviços. Sem isso, continuaremos repetindo os mesmos erros e aprofundando a crise.
