Carta marcada na Câmara

Opinião

Pedro Petrucci

Pedro Petrucci

Jornalista

Carta marcada na Câmara

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A Câmara de Vereadores mal completou o primeiro ano da nova legislatura e já tem, no papel, um presidente escolhido para 2026. Uma carta-compromisso circula entre os vereadores desde julho selando apoio a Michel Promove (PP) para comandar a Mesa Diretora no ano que vem, com 16 assinaturas de um bloco que reúne centro e direita e deixa de fora toda a esquerda – e um pedaço do próprio PP.

O documento veste roupa de defesa da “independência do Legislativo” e do “bom funcionamento institucional”, mas guarda no miolo a verdadeira mensagem política: quem assinar agora será tratado como “referência prioritária nas futuras composições, articulações e pautas da Mesa”. Em bom português, o clube promete lugar na mesa para os amigos de hoje e manda recado para quem preferiu não entrar no arranjo.

A foto da carta se cruza com o movimento recente na Casa. Marcelo Fonseca (União Brasil) assumiu a cadeira de Marcola, que assumiu a Secretaria de Habitação e Regulação Fundiária. O nome de Fonseca aparece no rodapé do documento, reforçando o alinhamento do recém-empossado ao bloco que tenta garantir maioria folgada a Promove em 2026, quando a eleição da Mesa sequer entrou oficialmente em pauta.

Dentro do PP, a carta mostra um tabuleiro ainda mais delicado. Rafael Amaral, que não assinou o compromisso, é hoje o vereador mais próximo do governo, com Cláudio Montanelli à frente da Secretaria de Trânsito. Michel Promove é o fiador da futura presidência, com Anderson Schmidt no Desenvolvimento Rural – relação já rachada e que tende a ficar mais sensível com a ofensiva pela Mesa. Arthur Halal, o terceiro nome do partido, subscreve o apoio a Promove, mas segue sem indicação no Executivo. Na prática, o PP está repartido em três pedaços: um pé no Paço com Amaral, outro puxando a fila da Mesa com Promove e um terceiro, Halal, tentando não perder o bonde.

Promove, porém, não caminha sozinho. Ao seu lado está César Brizolara, o Cesinha (PSB), principal articulador de bastidores da Câmara e presidente da Comissão de Constituição e Justiça. É na CCJ que passam os projetos mais sensíveis do governo e onde se decide, na caneta, boa parte das disputas sobre forma e conteúdo das leis. Ter Cesinha na engrenagem técnica e política e Promove como nome da carta é montar um eixo que pretende controlar, de ponta a ponta, o fluxo de decisões da Casa.

Como se não bastasse, tudo isso acontece justamente quando o ambiente já está carregado por dois outros temas de poder: as emendas impositivas e a disputa em torno das emendas à LDO neste fim de ano. Quem controla a Mesa em 2026 também controla a pauta e ordem de votação.

Do outro lado, o governo Marroni e a base ainda trabalha em busca de um nome capaz de repetir o que aconteceu em 2025, quando Carlos Junior foi uma espécie de consenso para acalmar os ânimos e garantir um primeiro ano sem sobressaltos na presidência. O próprio Carlos já admitiu que não seguirá à frente da Mesa em 2026, e esse vácuo abre espaço para a ofensiva de Promove – mas também obriga a situação a se mexer.

A pergunta que fica é até onde vai a tal “independência do Legislativo” quando uma parte expressiva da Câmara assina, em novembro de 2025, um compromisso escrito de quem comandará a Casa em 2026. O papel que hoje leva o nome de Michel Promove não trata apenas de quem vai segurar o martelo das sessões: trata de quem vai ter a chave do cofre político num momento em que cada real de emenda virou moeda de sobrevivência na base do governo e de musculatura para quem já pensa em dar um passo adiante em 2028.

Equipar é política

Entrevistamos na Rádio Pelotense Daniel Beltrammi, vice-presidente da Ebserh, no momento em que o novo Hospital Escola da UFPEL avança na obra e entra numa fase decisiva: a corrida pelos equipamentos. Em tom didático e político, Beltrammi lembrou que, com o protagonismo do Congresso e a impositividade das emendas, o futuro do HE depende bastante da capacidade de articulação da região. “Não há justiça social sem política”, disse, ao defender que a bancada gaúcha, pressionada por eleitores e lideranças locais, assuma o protagonismo no custeio dos aparelhos que vão dar vida ao hospital até 2028.

Hoje, boa parte dessa resposta está nas emendas – individuais, de bancada, de comissão – e, portanto, nas prioridades dos parlamentares. O que Beltrammi fez, com elegância, é lembrar que a bancada gaúcha virou co-proprietária do futuro do Hospital Escola.

Há também um recado para fora dos gabinetes. Ao dizer que política é “ciência das relações humanas”, Beltrammi explica que equipar o HE não é ato técnico neutro: exige universidade, hospital, prefeitos, entidades regionais e sociedade falando a mesma língua na hora de cobrar recursos.

Rio Grande se reposiciona

O novo ciclo do Polo Naval de Rio Grande já está em andamento. Há contratos em execução e expectativa de mais trabalho nos próximos meses. Em reunião nesta semana, a  prefeita Darlene Pereira recebeu representantes locais, estaduais e nacionais dos metalúrgicos, ao lado do deputado federal Alexandre Lindenmeyer, para discutir a política naval e combinar como será esse acompanhamento daqui para frente.

A prefeitura quer participar de forma organizada desse processo, e não apenas reagir aos anúncios. Ao trazer Confederação e Federação dos Metalúrgicos para o Paço, o governo municipal reconhece que o trabalhador precisa estar na mesa desde o início, porque é ele que sente primeiro quando há mudança de ritmo, seja na expansão, seja em eventual desaceleração. E o histórico está aí. A decisão de manter encontros periódicos também é objetiva. Em vez de reuniões pontuais a cada crise ou grande anúncio, a proposta é ter um canal fixo de diálogo entre prefeitura, metalúrgicos, deputados e demais atores do setor. Isso pode ajudar a identificar gargalos mais cedo, seja na formação de mão de obra, seja na negociação de condições de trabalho, seja na infraestrutura necessária para dar conta das encomendas.

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