Oficina de bonecas abayomis resgata memória e cultura negra

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Oficina de bonecas abayomis resgata memória e cultura negra

Ação da Academia do Samba com o Círculo Operário promove reflexão sobre identidade, resistência e educação antirracista

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Atualizado segunda-feira,
17 de Novembro de 2025 às 17:35

Oficina de bonecas abayomis resgata memória e cultura negra
Organizada pela Academia de Samba, a atividade ensina crianças e pessoas com deficiência a criar as bonecas de pano consideradas símbolo de resistência, identidade e afeto na cultura afro-brasileira (Foto: Julia Barcelos)

As turmas atendidas pelo Círculo Operário de Pelotas (COP) participaram, nesta segunda-feira (17), de uma oficina de confecção de abayomis. A ação, alusiva ao Dia da Consciência Negra, apresentou o significado das bonecas, cujo nome é uma palavra de origem iorubá que significa “encontro precioso”.

Feitas com tiras de tecido sem uso de costura ou cola, as bonecas representam memória, afeto e ancestralidade. Durante a oficina, os participantes também aprenderam sobre cultura e resistência negra, além de práticas antirracistas. Um dos conceitos abordados foi “ubuntu”, filosofia africana que expressa interdependência e solidariedade: “eu sou porque você é”.

Organizada pela Academia de Samba, em conjunto com a Cop, a atividade ensina crianças e pessoas com deficiência a criar as bonecas de pano consideradas símbolo de resistência, identidade e afeto na cultura afro-brasileira. Mais de 20 participantes estiveram envolvidos, além da palestrante convidada pelo COP, Karina Silveira, professora de filosofia. Relacionando o termo à atividade, a professora destacou o sentido simbólico das bonecas e o desejo de reconexão cultural. “Sempre na esperança de reencontrar meus pares, minha família, e também de reencontrar a minha história e a minha memória. Quanto mais o tempo passa, mais isso vai se perdendo”, afirma.

Karina destaca que a oficina funciona como um instrumento de fortalecimento da identidade e de promoção do antirracismo. Para ela, levar elementos da cultura africana aos espaços comunitários é uma forma de ampliar o entendimento sobre o significado da Consciência Negra. “É preciso fomentar desde cedo para que as crianças tenham sua identidade, tenham orgulho dela, e que possam ser antirracistas. Sempre reforçamos que não basta não ser racista, como diz Angela Davis: é preciso ser antirracista. E essa prática é um ato diário, porque quanto mais silêncio, mais reprodução do racismo a gente encontra”, completa.

Envolvimento histórico

Parte da atividade foi voltada à contação de histórias sobre a vinda dos negros ao Brasil e um momento de desenho, no qual os participantes retrataram colegas para refletir sobre diversidade. “Para que pudéssemos visualizar essa diversidade e mostrar que o branco e o preto não são questões objetivas. São subjetivas. Ninguém é branco como o papel ou preto como o lápis”, explica Karina.

Entre as crianças, Mariana Nobre, de sete anos, exibiu orgulhosa a bonequinha que chamou de Juliana. “Foi um pouquinho difícil, mas a tia me ajudou”, conta ela. “O que eu mais gostei nela foi o vestido”, revela.

A oficina integra o projeto da Escola de Artes e Ofícios do Samba. “A ideia central dessas oficinas e palestras sobre cultura afro-brasileira vem da Lei 10.639, que determina o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira nas escolas. Então, de maneira transversal, a Escola de Artes e Ofícios do Samba introduz esse tema para os estudantes”, explica o coordenador executivo da Academia do Samba, José Francisco Martins Borges.

Boneca abayomi

A técnica da boneca abayomi foi criada pela artesã maranhense Lena Martins em 1987, durante debates sobre a marcha dos 100 anos da abolição. Ativista do Movimento de Mulheres Negras no Rio de Janeiro, Lena desenvolveu as bonecas como instrumento de conscientização e sociabilização, que ao longo do tempo se tornou símbolo de resistência da cultura negra na diáspora.

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