Conhecido por papéis marcantes na televisão, Mateus Solano se reinventa nos palcos com O figurante, sua estreia em um espetáculo solo. A peça, que já atraiu mais de 50 mil espectadores em todo o país, une comédia e drama para narrar a trajetória de Augusto, um profissional do audiovisual em busca de reconhecimento e sentido para sua existência. Amanhã o ator estará em Pelotas, pela primeira vez, para apresentar este espetáculo no Theatro Guarany, às 21h. Ingressos pela plataforma Olha o Ingresso.
Com direção de Miguel Thiré e dramaturgia assinada pelo próprio Solano em parceria com a atriz Isabel Teixeira, o espetáculo propõe uma reflexão profunda sobre o lugar que cada um ocupa no mundo e a dificuldade de assumir o protagonismo da própria vida. A dupla Thiré e Solano tinha feito outras parcerias no teatro, mas ambos atuando.
Foi essa proximidade que o fez convidar Thiré para a direção. “A peça foi surgindo do meu inconsciente, é como se ela continuasse conversando comigo, o meu consciente fosse se abrindo para outros significados”, fala o ator.
Solano e Isabel Teixeira utilizaram o processo criado por ela, chamado de “escrita na cena”. No “escrita na cena” o ator deixa o celular filmando, enquanto ele fica num fluxo narrativo, sem roteiro, improvisando pelo tempo que quiser. Esse material é enviado à Isabel que transcreve.
Junto com a transcrição, Solano recebeu uma série de considerações, que foram devolvidas, posteriormente. Nesse vai e volta eles construíram o texto de O figurante. “Depois de umas sete idas e vindas, o Miguel Thiré também entrou na jogada e nós três começamos a entender que texto era esse e como a gente poderia organizar essas improvisações em um texto com início, meio e fim”, conta o ator.
Estreia no solo
Mateus Solano faz teatro desde 1996 e só agora se animou a entrar no palco sozinho. Para o ator, fazer um monólogo é algo muito potente e ele não se sentia preparado para encarar esse desafio, até então. “Tive bastante tempo para me entender maduro o suficiente e com sustança, com coisas pra dizer, aguentar 70 minutos sozinho no palco e segurando a atenção e a emoção da plateia”, comenta.
Em cena, Solano abre espaço para um personagem que é “invisível”. A narrativa acompanha Augusto, um figurante que, cansado de viver à sombra dos outros, começa a questionar o vazio de sua rotina e a falta de propósito que o cerca. Entre humor e melancolia, O figurante discute temas universais como identidade, frustração e autoconhecimento — um espelho cênico das inquietações contemporâneas.
No palco o ator utiliza não só a voz, mas o corpo, especialmente através da mímica para contextualizar a plateia. “É através da mímica, junto com a imaginação do público que eu vou construindo esse cenário, essas outras pessoas que esbarram no Augusto, que falam com ele de cima ou de baixo”, diz.
A peça foi indicada e ganhou prêmio pela expressão corporal do ator, um diferencial para quem conhece Solano só da TV. “Exige muito do meu corpo. Além de suar, muito, tem gente que já me apelidou de ‘Mateus Suando’”, brinca.
Dois caminhos
O ator comenta que a peça abre em discussão dois caminhos: um deles é o estímulo para que as pessoas deixem de ser figurantes e passem a tomar as rédeas da própria vida. Por outro lado surge o entendimento de que todos são figurantes e que enquanto a humanidade ficar com sonhos de protagonismo, inventando realidades em que se tem alguma importância, as pessoas só vão alimentar angústia e medo da morte. “A partir do momento que a gente entende a beleza de sermos meros figurantes num universo que é infinitamente maior do que nós, acho que a gente leva a vida de uma forma mais leve”, observa Mateus Solano.
