Já prestes a completar um ano escrevendo neste espaço, é uma feliz coincidência ter iniciado comentando sobre Ainda Estou Aqui e suas grandes chances — já consolidadas — no Oscar deste ano. Agora, passado esse período, é possível falar sobre outro filme brasileiro também com chances concretas de alcançar o mesmo prestígio no exterior no próximo ano: O Agente Secreto (2025), de Kléber Mendonça Filho.
Em cartaz nas salas pelotenses depois de algumas sessões em pré-estreia, o filme é um retrato particular do cineasta sobre o regime militar na Recife dos anos 1970, através de um olhar — já conhecido de seus trabalhos anteriores — que demonstra apreço por explorar a memória e a nostalgia. Aliás, há uma melancolia recorrente nos filmes de Kléber, talvez nascida de uma necessidade de resgatar o passado para imaginar um futuro onde se possa vingar as injustiças feitas lá atrás.
Em O Agente Secreto, Wagner Moura interpreta Marcelo, um professor universitário que decide fugir de São Paulo para Recife em meio à semana de Carnaval de 1977. Seu intuito é se afastar para uma região tranquila e assumir uma nova identidade e vida. Porém, o plano começa a ruir quando, aos poucos, o passado de Marcelo volta para alcançá-lo. Personagem essencial da trama — assim como em outros filmes de Kléber —, a câmera se desloca por Recife e suas paisagens, praças e cinemas. É um retrato apaixonado de alguém que quer apresentar suas raízes.
Fazendo uso de alegorias e da nostalgia do cinema norte-americano da década em que se passa, somos levados às intensas exibições de Tubarão e A Profecia — que não estão na narrativa por acaso. São também trunfos para aproximar o público estrangeiro.
Com uma première arrebatadora no Festival de Cannes deste ano, o filme foi agraciado com dois prêmios importantes: Direção e Ator (para Wagner Moura). Um feito que o colocou entre os principais títulos da temporada de premiações. Que agora todos nós e também os gringos, possamos nos render novamente ao bom cinema brasileiro.