A região da antiga Pelotas — hoje formada pelos municípios de Pelotas, Morro Redondo e Capão do Leão — segue sendo o principal polo da indústria do pêssego no Brasil, responsável por 95% da produção nacional. Com cerca de três mil hectares de pomares e 615 produtores, a região concentra o único complexo industrial do país com mais de uma fábrica de beneficiamento da fruta. Apesar da força produtiva e da expectativa de uma excelente safra em 2025, o setor vive um momento de apreensão devido à queda nos preços pagos pela indústria.
A expectativa dos produtores de manter o preço do quilo em R$ 2,50 para frutas tipo 1 e R$ 2,20 para o tipo 2 não deve se confirmar para a safra 2025/2026, estimada em 45 mil toneladas. Até o momento, a indústria oferece R$ 2,10 e R$ 1,85, valores considerados abaixo do esperado pela categoria. O valor ideal para os produtores seria por volta de R$ 2,70 do tipo 1, segundo o presidente da Associação dos Produtores de Pêssego da região de Pelotas, Adriano Bosenbecker. Ele relata que a queda do preço pegou todos de surpresa. “Se esperava que não ia ter um reajuste muito grande, mas fomos pegos de surpresa com a diminuição. Um bom preço seria R$ 2,70, mas as indústrias entenderam que não, chegando no máximo a R$ 2,10. É um ano de muito mais trabalho, de aumento no custo e de desgaste, e ainda assim vamos fazer menos dinheiro que no ano passado”, lamenta.
Apesar do desafio no cenário econômico, as condições climáticas deste ano favoreceram o desenvolvimento dos pomares. O inverno apresentou bom número de horas de frio, e a floração ocorreu dentro do esperado, o que deve resultar em uma safra volumosa e de qualidade. “Embora enfrentemos uma supersafra e preços que ainda não refletem o trabalho do produtor, o que fica de positivo é a união da categoria e a busca por soluções que garantam sustentabilidade. Precisamos de regras mais equilibradas para que quem trabalha na base da cadeia consiga sobreviver e manter o setor forte”, conclui Adriano.
Reunião
O preço foi o centro da reunião realizada na manhã de segunda-feira (27), entre produtores e representantes da indústria do pêssego. O encontro reuniu mais de 300 produtores e contou com a participação de seis das sete indústrias da Zona Sul. A reunião foi considerada histórica por Bosenbecker, reunindo um número recorde de participantes e permitindo o diálogo direto com quase todas as grandes indústrias da região em um único evento. Além disso, definiu encaminhamentos estratégicos, incluindo a articulação política junto a deputados e ao Ministério da Agricultura.
Durante o debate, os produtores criticaram a diferença entre o custo de produção e o preço pago pela indústria, que tem diminuído a margem de lucro do setor, especialmente diante do aumento dos insumos, da mão de obra e do transporte. Um dos principais encaminhamentos foi o pedido para que o Ministério da Agricultura altere o sistema de importação do pêssego da Argentina, hoje feito de forma automática. Atualmente, uma caixa com doze latas de pêssego custa cerca de US$ 9,60 na Argentina, enquanto no Brasil o custo mínimo chega a US$ 12,80. A mudança para licença manual, com liberação em 60 dias, daria mais tempo às indústrias para comercializar a produção de fim de ano.
Outro pedido foi encaminhado à Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a compra de 15 milhões de latas do excedente da safra 2025/2026. A medida busca dar um fôlego financeiro às fábricas, especialmente as de menor porte, que dependem da venda antecipada para cobrir custos de produção, como açúcar, latas e pagamento aos produtores.