Como você conjuga o verbo confiar?

Opinião

Jarbas Tomaschewski

Jarbas Tomaschewski

Coordenador Editorial e de Projetos do A Hora do Sul

Como você conjuga o verbo confiar?

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Confiança não se compra. Se conquista. Simples e complexo assim. Requer trabalho, exposição, investimento e seriedade. E ela vem acompanhada de outra frase feita: mais difícil do que conquistar é permanecer confiável. E aqui está o maior desafio. Não basta ser, é preciso provar.

A pesquisa Grau de confiança do pelotense nas instituições, realizada para o jornal A Hora do Sul pelo Instituto Pesquisas de Opinião (IPO), apresenta o momento atual das organizações aos olhos da comunidade no quarto maior município gaúcho. A população confia nos Bombeiros, na Brigada Militar e na Imprensa. E tem ressalvas com a prefeitura, a Câmara de Vereadores, o governo do Estado e a Assembleia Legislativa. Pode-se dizer, ainda, que o Poder Judiciário está no limite dessa percepção.

Em nível local, o Legislativo precisa repensar sua imagem negativa frente à sociedade. De cada dez pelotenses, apenas três confiam na Câmara de Vereadores. O Indicador de Confiança Líquida (ICL), calculado pela diferença entre o percentual de respostas positivas e negativas, está hoje em –24,4. Como comparação, o ICL dos Bombeiros é de +91,3.

Tradicionalmente, os vereadores não gostam de ouvir críticas. Tergiversiam sobre as cobranças e têm dificuldade em assumir erros. A Casa do Povo não é um time unido, como no futebol. São várias cabeças que jogam partidas diferentes ao mesmo tempo, dentro da pluralidade democrática. E é aí que surge muitas vezes o problema. Todos pagam por alguns quando os arranhões públicos surgem. Para o povo, a imagem política é sempre coletiva, principalmente nos maus momentos. O que remete à última frase do primeiro parágrafo deste artigo: não basta ser, é preciso provar.

A prefeitura também tem inço no seu quintal. Governos trocam a cada quatro ou oito anos e herdam políticas públicas. Em Pelotas, a insatisfação denota o distanciamento popular em relação às instâncias executivas e um grau de desaprovação às ações locais. Enquanto as forças de segurança bebem do alto grau de positividade, a prefeitura — que criou o Pacto pela Paz e elevou a cidade a um patamar altíssimo — não usufrui do mesmo prestígio. Sua barca é maior. Carrega ainda a responsabilidade pela saúde, pela zeladoria, pela educação e por tantos outros compromissos. Enquanto 47,3% dos pelotenses disseram não confiar na prefeitura, nacionalmente 63% dos brasileiros confiam nos prefeitos das suas cidades (Pesquisa Genial/Quaest, agosto de 2025).

Em Pelotas, a Imprensa aparece entre as instituições mais confiáveis do ambiente civil. Vence os respingos da polarização e mantém-se firme em seu propósito, de ser a porta-voz de pautas estratégicas e reconhecida pelo papel fiscalizador. Com proximidade, relevância e credibilidade, conserva sua relação estável e direta com o público. Contribui de forma significativa na construção de comunidades.

Gerar desconfiança é o caminho mais rápido para anular créditos. As incertezas só se multiplicam em ambientes assim. O Poder Judiciário não aparece bem na pesquisa feita com os pelotenses: 44,3% não confiam no órgão. Da mesma forma, tem desafios. Pode estar contaminado pelas reações dos brasileiros ao STF ou pagando a conta pela sensação generalista de impunidade.

O levantamento não aponta culpados, indica caminhos. O recorte de outubro de 2025 pode ser outro daqui a um ano – mais positivo. Se assim trabalhar quem hoje desperta olhares incrédulos.

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