A Guria

Opinião

Helena Tomaschewski

Helena Tomaschewski

Estudante de Direito

A Guria

Por

Como a cachorreira que sou, toda vez que ia às casas das minhas amigas com pets, me aproveitava como “tia” para amassar seus pequenos habitantes. Reclamava de como sentia falta do Bento, nosso shih-tzu que me viu crescer, e de como faltava uma “energia” no meu lar. Ironicamente, o Bento nunca teve muita energia. Ele tinha problemas nas cordas vocais e não sabia latir nem subir a escada — muito menos fazer buracos no pátio ou brincar. Gostava da vida boa: só de carinho e sonecas.

Todos que o conheciam e tinham cachorros falavam sobre como éramos sortudos por termos um cachorro tão calmo e, inocentemente, achávamos que nossa “sorte” era eterna.

Então, ao completar dezoito anos, uma amiga chegou com um presente: uma filhote vira-lata caramelo. Eu imediatamente me apaixonei. Meus pais, apesar de relutantes, não conseguiram negar uma cachorrinha resgatada, e minha amiga nos prometeu que ela seria de porte médio — assim como o Bento era. E, naquela mesma noite, foi registrada: Guria de Ávila Tomaschewski.

Ela parecia treinada para conquistar novos donos: veio com uma roupinha de coelho, sorria com os olhos, abanava o rabinho e pedia carinho na barriga. Ah, pobre de nós, caímos como patos.

Na mesma noite, levei a pequena para dormir no meu quarto, bem feliz com o presente e pensando que, depois de ter cachorro em casa por anos, saberia lidar com uma filhotinha inocente.

Três da manhã, desci porque não conseguia dormir com a Guria conhecendo cada canto do meu quarto.

Rapidamente fomos notando pequenas diferenças entre a Guria e o nosso antigo cão.

Ela sabia todos os truques que ele tinha dificuldade — e ainda nos surpreendia com mais alguns. Cava buracos, caça ratos e passarinhos, sobe e desce as escadas mil vezes por dia, dorme nas nossas camas e sofás, late perfeitamente bem e quer brincar incansavelmente. Ela não parou de crescer, e eu juro que, mesmo três anos depois, cada vez que a vejo parece maior.

Com o tempo, o nome de Guria já não a cabia mais. Esse nome curto não permite que eu chame sua atenção pelo tamanho da repreensão que ela precisa ouvir diariamente. Então, recebeu apelidos: Maria Isabel, Maria Isabela, Maria Cristina, Teresa Cristina. Não me perguntem o porquê dos nomes, mas na hora da raiva são esses que saem da minha boca — e ela atende.

Quando eu dizia por aí que faltava uma “energia” na casa, não esperava ser tão bem atendida. Obrigada, amiga, por sempre me ouvir tão atentamente. Lembrarei disso sempre que chegar teu aniversário.

Brincadeiras à parte, depois da adaptação — nossa adaptação, porque ela prontamente se sentiu em casa — e dos meses de irritação dos meus pais conosco, hoje não nos imaginamos sem nossa Guria, Maria Isabel, Maria Isabela, Maria Cristina, Teresa Cristina…

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