Natália e Isadora seguem o legado dos irmãos Nicole e Samuel no Remar para o Futuro

Vínculo permanece

Natália e Isadora seguem o legado dos irmãos Nicole e Samuel no Remar para o Futuro

Mais jovens que os irmãos vitimados pela tragédia, atletas mantêm as famílias conectadas ao projeto

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Natália e Isadora seguem o legado dos irmãos Nicole e Samuel no Remar para o Futuro
Juliano (E) e Erica (D) são os pais de Isadora (C) e Samuel, uma das vítimas do acidente; aos 13 anos, a jovem ingressou em 2025 no Remar (Foto: Gustavo Pereira)

Basta uma rápida conversa com algum integrante do Remar para o Futuro para logo ouvir que o projeto é uma grande família. Depois do acidente, essa definição passou a se tornar ainda mais coerente. Mas no sentido literal da palavra, duas famílias começaram a viver o projeto de outra maneira. As atletas Natália Colella da Cruz e Isadora Benites Lopes representam o legado, respectivamente, de Nicole Colella da Cruz e Samuel Benites Lopes.

Natália e Nicole

O pai, Vagner da Cruz, diz que Natália, que celebrará 15 anos em novembro, é o que o faz continuar depois de perder Nicole, que completaria 17 também no próximo mês. “Para mim, ela está viajando. Parece que não caiu a ficha. Só quando eu vejo alguma coisa dela. Começo a entrar em uma vibe meio ruim, e aí tento fazer alguma coisa para espairecer. É muito difícil”, conta.

Vagner relembra a importância do Remar para a sociabilidade dos jovens. “Isso aqui era a vida deles. Aprenderam muito disciplina e coletividade. Eram irmãos. Onde um ia, ia todo mundo”, relata. Ele também enfatiza como Natália ganhou independência após ingressar no projeto, ainda antes do acidente. A jovem participou dos Jogos da Juventude, campeonato indoor em Brasília, onde ganhou medalha de bronze, e estará no Brasileiro de Jovens Talentos em Porto Alegre.

Pai de Nicole e Natália, Vagner da Cruz exalta o impacto social positivo gerado pelo projeto (Foto: Jô Folha)

“Ela não gosta de falar [sobre o assunto]. Minha filha perdeu a mãe em julho do ano retrasado e em outubro do ano passado perdeu a irmã. Acho que ela descarrega essa angústia aqui no remo. Sempre rindo, sempre na dela, continua ótima nos estudos”, diz Vagner sobre Natália, que já manifestou ao pai o interesse de cursar uma graduação relacionada ao esporte.
Em 2026, a irmã de Nicole passará duas semanas nos Estados Unidos em treinamento. O treinador Davi Rubira e o atleta Arthur Freitas também vão representar o Remar em solo estadunidense.

Natália viajou a Brasília para os Jogos da Juventude (Foto: Divulgação)

Isadora e Samuel

A tragédia aproximou famílias, inclusive Vagner e Juliano Lopes, pai de Samuel, que tinha 15 anos. A irmã, Isadora, aos 13, decidiu ingressar no Remar em 2025. “Sempre fui muito ligada ao esporte [fazia rugby e já jogou handebol]. Na metade do ano passado, o Samuel chegou em casa falando que o Oguener comentou em fazer uma nova turma de garotas. Ele pensou em me chamar. Falamos em terminar o ano letivo”, conta a jovem.

A primeira competição de Isadora foi a Regari, regata estadual de remo indoor realizada em julho, em Porto Alegre. A atleta sofre de bronquite e vem notando uma evolução na resistência depois de começar no remo. “Particularmente, não gostei muito do resultado [4º lugar no single sub-13]. Mas, me conhecendo, sei que fui muito bem e que consegui me superar”.

A mãe, Erica Benites Lopes, também exalta o crescimento do filho depois da entrada no projeto. “O Samuel veio, fez amizades. […] Nunca tinha andado de ônibus, não tinha amigos fora de casa. Essa foi a parceria do projeto na criação dele, que nos ajudou, e isso nos motiva a deixar a Isadora estar aqui. A gente tem obrigação de manter o projeto funcionando”, conta.

Juliano relembra com carinho das caronas dadas aos sábados para colegas do filho. Antes, largava-os na porta e retornava. Agora, tudo é diferente. “A gente não tinha esse vínculo, deixava o Samuel à vontade. Hoje a gente é um pouco mais próximo do projeto”, afirma.

Erica complementa. “A gente se preocupa com a existência do projeto. Fiz questão de ser uma sócia-fundadora da associação. É parte do legado. O projeto nos ajudou muito na criação do Samuel. O adolescente tem várias dúvidas e o esporte proporciona ocupar a mente, trabalhar o corpo, se desenvolver sadiamente. […] Isadora nos impulsiona a essa cura, porque talvez eu nunca mais tivesse colocado os pés aqui. Ela vem, insiste em vir, quer estar aqui. Entendo que é importante, também, por ela”, diz a mãe.

Nove vidas perdidas

No acidente ocorrido na BR-376, em Guaratuba (PR), perderam a vida os atletas Samuel Benites Lopes, 15 anos; Henry Fontoura Guimarães, 17; João Pedro Kerchiner, 17; Helen Belony Centeno, 20; Nicole Colella da Cruz, 15; Angel Souto Vidal, 16; e Vitor Fernandes Camargo, 17, além de Oguener, 43, e do motorista da van, Ricardo Leal da Cunha, 52.

A delegação do projeto pelotense, fundado em 2015 e ligado à prefeitura e à UFPel, retornava de São Paulo. Na capital paulista, o grupo disputou o Campeonato Brasileiro Unificado de Remo. Os atletas do Remar conquistaram um total de sete medalhas (duas de ouro, três de prata e duas de bronze).

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