O agronegócio gaúcho começa a safra 2025/26 com uma projeção histórica. Segundo o primeiro levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Rio Grande do Sul pode colher um recorde de 40,9 milhões de toneladas de grãos, um aumento de 13,7% em relação ao ciclo anterior. O número, que depende de condições climáticas favoráveis, posicionaria o Estado como o terceiro maior produtor do Brasil.
O entusiasmo dos números, porém, contrasta com a realidade do campo na Zona Sul. Conforme o Informativo Conjuntural da Emater/RS-Ascar, referente à semana de 6 a 12 de outubro, o plantio recém começou na região. Os produtores iniciam o ciclo com cautela, atentos ao comportamento do clima e às condições de mercado.
A soja é a grande estrela da projeção estadual. A Conab aponta expectativa de crescimento de 34,9% na produção do grão, superando as perdas recentes. A região Sul planeja cultivar mais de 515 mil hectares, mas o plantio ainda é inicial: 1% da área foi semeada. No momento, os produtores realizam a dessecação de áreas, a correção do solo com calcário e a aquisição de insumos.
Milho: redução para grão, aumento para silagem
O RS é o maior produtor de milho da 1ª safra no país. Localmente, no entanto, o cenário é de estratégia. A área destinada ao milho grão deve ter uma redução de 9% na região, reflexo da dificuldade de comercialização no início do ano, por conta do foco na soja. Por outro lado, a área para silagem deve crescer 26,54%, atendendo à demanda da pecuária. Atualmente, 6% da área total de milho já foi semeada na região.
Arroz: liderança com preços que preocupam
O Estado segue como líder nacional na produção de arroz, mas a Conab prevê uma queda na produção e na área plantada, motivada pelos preços baixos. Essa preocupação reflete na Zona Sul. Embora o plantio esteja avançado, com 61% da área de 170 mil hectares já semeada, os produtores estão apreensivos. O informativo da Emater destaca: “grande preocupação com as novas reduções nos preços pagos ao produtor, que não cobrem o custo de produção”. Em Pelotas, a saca de 50 kg foi cotada em R$ 61,17.
Culturas de inverno e feijão
Para o trigo, a colheita já começou na região, com 5% da área ceifada e produtividade inicial considerada boa, na casa de 2.770 kg/ha. A área plantada foi menor este ano, em parte pela decisão de muitos produtores de investir na pecuária de corte, que apresentou melhor retorno financeiro.
No feijão, a semeadura atinge 25% da área prevista. A expectativa regional, no entanto, é de uma redução de 13,42% na área cultivada em comparação com a safra passada, com o cultivo se concentrando em pequenas propriedades para consumo familiar e venda em mercados locais.
O fator clima
O presidente da Conab, Edegar Pretto, ressalta que o sucesso da safra dependerá da “estabilidade do clima nos próximos meses”. O relatório da Emater ilustra essa dependência: a última semana na região teve grande variação de temperatura, chuvas providenciais para as pastagens, mas também ventos fortes e granizo em pontos isolados.
Otimismo e cautela
O cenário de um otimismo projetado em larga escala encontra no campo um produtor estratégico. Para o engenheiro-agrônomo da Emater-RS, Evair Ehlert, a projeção da Conab, se confirmada, representará o equilíbrio de contas para o produtor gaúcho. “Que estejam certos os prognósticos do presidente da Conab”, deseja.