Fundada em 1970 por Gilberto Guilherme Bonow, a Relojoaria Bonow é uma das lojas mais tradicionais de Pelotas. Há mais de meio século, o som dos relógios marca o tempo de uma história construída sobre confiança, qualidade e laços familiares. Desde o falecimento do pai, há 22 anos, Dimitri Loeck Bonow segue à frente do negócio, mantendo viva a tradição e enfrentando os desafios de um comércio em constante transformação.
O que pode explicar a longevidade da loja?
Acredito que se deve ao fato da confiança que as pessoas têm na gente, na qualidade do serviço e dos produtos. Entregar aquilo que o cliente deseja. Sempre procurar – e é um dever nosso – fazer o melhor possível, sanar defeitos que podem aparecer nos relógios, dar uma boa assistência. E, para isso, ter profissionais de qualidade. Mexer em relógio muita gente mexe, mas consertar mesmo, principalmente relógio mecânico, vou te dizer que eu só conheço três ou quatro que realmente sabem mexer.
Quais lembranças mais marcantes guarda do tempo que trabalhava ao lado do seu pai?
É difícil falar. Ele faz muita falta. Ele era um líder nato. Tomava decisões – geralmente certas – nos momentos difíceis. Eu me lembro dele preocupado em crises. E pai é pai. Faz muita falta. Dele só tenho ótimas recordações. Sempre me ensinando as coisas, me dando um norte para as decisões, me chamando atenção quando eu não tomava a decisão certa. Um ótimo pai.
Como você viu a transformação do trabalho do relojoeiro ao longo do tempo?
Os relógios digitais, celulares… claro que mudou muito. Toda novidade no mercado mexe. Os celulares antigos, aqueles tijolões, não faziam concorrência com o relógio. Mas muita gente parou de usar relógio quando surgiram os smartphones, principalmente os mais completos. Mas também sempre teve aquele público que é fiel ao relógio. Eu sou um que tem celular, mas não consigo tirar ele do bolso para olhar as horas, podendo só olhar no pulso – é muito mais prático. A praticidade do relógio, para ver as horas, o celular não vai tirar nunca. Então, o relógio é um negócio que sempre vai ter cliente.
Como foi lidar com os períodos de crises e mudanças, mantendo a loja aberta?
O Brasil é um país que, ultimamente, está sempre em crise. E as crises cada vez mais longas. As pessoas têm vontade de consumir, mas a maioria não tem mais poder aquisitivo. E quem tem, gasta pouco. A internet também é outra coisa que tirou mercado. Às vezes eu acho até um pouco injusto, porque – não só no meu ramo, em qualquer ramo – você vai numa loja, olha o preço, compara na internet e encontra bem mais barato o mesmo produto. As lojas físicas sofrem muito com isso. A gente está sempre lutando para continuar e seguir atendendo nossos clientes.
E como é ver clientes que acompanham a relojoaria há gerações?
É muito bom. Tem muitos clientes que são cliente da loja desde antes de eu nascer. Eu nasci em 1971, quando a loja já estava fazendo um ano, e até hoje aparecem pessoas que me dizem que foram dos primeiros clientes do meu pai, em 1970. E, graças a Deus, os que continuam vivos, volta e meia aparecem aqui e contam umas boas histórias. Relembram bastante coisa. Era uma época bem diferente. Mas é ótimo ver que os clientes antigos, do meu pai, ainda continuam vindo aqui, porque sabem que vão encontrar um bom serviço, que podem confiar.