Quando era criança, costumava ser a filha compreensiva, aquela que mais entendia, que ouvia com atenção, mas que carregava uma sensibilidade intensa.
Conforme a vida adulta chega, é como se o mundo nos forçasse a amadurecer antes da hora, despindo-nos das fases e trazendo, enfim, a nostalgia. Quando crescemos, de alguma forma, esquecemos os pensamentos que já habitaram nossa mente. E, quando digo isso, não me refiro a histórias ou ao Papai Noel; refiro-me à maneira como costumávamos acreditar, sentir e enxergar o todo como algo singular.
Em uma pequena sala da casa de minha avó, nasciam grandes sonhos. Na infância, eu adorava brincar de ser professora, fascinada pelo poder que as palavras tinham de ensinar. Para mim, isso era ainda mais mágico do que coelhos que traziam ovos de chocolate.
Quando me tornei escritora, mais uma vez me vi revivendo essa fase, agora levando o encanto da linguagem para aqueles que, assim como eu, necessitam de sentimento.
Não perder o tato e a sensibilidade ao longo da jornada diz muito sobre quem fomos em uma infância repleta de vida.
É cedo demais para permitirmos que o tempo apague da memória a magia que enxergávamos nas pequenas coisas.
Cedo demais para apagar as linhas que nossa criança escreveu, com letras tortas e palavras erradas, mas que, de alguma forma, ensinaram o poder de ser.
Não me despeço da menina sensível que fui, pois ainda a encontro em cada gesto, em cada escolha, em cada instante de conexão.
Para todas as crianças compreensivas, para que nunca se esqueçam do poder que vocês, adultos, ainda carregam.