Meu primeiro contato com Khalil Gibran foi no Ensino Médio, por meio de uma colega que, assim como eu na adolescência, descobria e abraçava escritores do mundo. Não me tornei fã de Gibran, mas, de tanto ouvi-la, foi inevitável o despertar do interesse pelo trabalho do autor de O Profeta e aquela que foi a principal figura do movimento romântico responsável por transformar a literatura árabe na primeira metade do século 20.
Fiquei entusiasmado ao saber, pelo professor Luís Rubira, que, nos próximos finais de semana, ele disponibilizará ao jornal A Hora do Sul as cartas trocadas entre o escritor e José Mereb, libanês radicado em Pelotas e tradutor de suas obras. Pensar que um pequeno pedaço da vida de Gibran esteve conectado à nossa cidade é tão importante quanto a passagem do autor de O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupéry, por aqui. O aviador e escritor francês era piloto da empresa Aéropostale e fez várias paradas pelo Brasil na década de 1930.
Como uma criança com tênis novo, levei a novidade aos meus filhos, de 18 e 21 anos.
— Sabem o que vamos publicar no jornal? Cartas de Khalil Gibran a um pelotense.
Com o silêncio após o anúncio, insisti:
— Vocês sabem, Gibran, autor do livro O Profeta… Ele marcou gerações inteiras.
Meus argumentos não mudaram o ar de desdém da dupla lá de casa diante do que eu acabara de contar. Nada disseram, mas deu para ouvi-los:
— Sim, e daí?
No retorno ao trabalho, frustrado, foi inevitável refletir sobre minha ingenuidade: as novas gerações nunca ouviram falar de Khalil Gibran. Tive a esperança renovada ao chegar à Redação. Os jornalistas mais novos certamente iriam comungar comigo o entusiasmo. A quatro deles repeti a pergunta e, como meus filhos, recebi de volta rostos sem expressão. Nunca ouviram falar – nem leram uma linha – do poeta mais vendido no século passado.
Gibran repete, em 2025, a não aceitação dos críticos àquela época. Sua construção literária e o investimento em outras áreas das artes prosseguiram até o lançamento de sua grande obra, publicada em setembro de 1923. O Profeta recebeu comentários mornos e entusiasmados, mas ganhou os aplausos do público e vendeu milhões de cópias por décadas. Jamais, porém, foi lido pela geração Z, seguidora de “profetas” digitais.
Coisas da vida. Não se força alguém a ler A ou B. Mas, se você chegou até aqui, folheie mais algumas páginas do jornal e aprecie as palavras escritas direto de Nova York pelo ensaísta, prosador, poeta, conferencista e pintor libanês ao pelotense José Mereb, datadas de 25 de maio de 1921. Um privilégio que o Grupo A Hora oferece a seus leitores hoje e nos próximos finais de semana.