Muito além dos pedágios

Opinião

Jarbas Tomaschewski

Jarbas Tomaschewski

Coordenador Editorial e de Projetos do A Hora do Sul

Muito além dos pedágios

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O caso do Polo Rodoviário Pelotas, cujo contrato se encaminha para o final, merece profunda reflexão da sociedade. Das únicas certezas até agora, temos o encerramento da concessão em 3 de março do ano que vem, um leilão sem data para acontecer e um vácuo de vários meses que irá se estabelecer até a próxima empresa assumir a responsabilidade pelos 457 quilômetros nas BRs-116 e 392, nos trechos entre Pelotas e Camaquã, Jaguarão, Rio Grande e Santana da Boa Vista.

O mais provável é que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) retome a administração das rodovias federais com o orçamento que tiver à disposição. Hoje, infinitamente menor em relação aos investimentos feitos pela Ecovias Sul. Para tanto, existe a previsão, pelo órgão federal, de contratar quatro empresas, que ficarão responsáveis pela manutenção das estradas até o caso ser resolvido.

O debate não se resume ao valor do pedágio, que é caro demais e, sim, causa prejuízos à economia regional, mas ao risco que se corre de passarmos dois anos ou mais numa regressão das BRs, com a volta de problemas como buracos, falta de acostamento e sinalização, afundamento de pista, entre outros pontos, sem a velocidade necessária para garantir a segurança de quem percorre o Polo Rodoviário Pelotas. E esse risco existe.

Não estou colocando em xeque o trabalho do DNIT. Ao contrário. O órgão desempenha seu papel com qualidade em todos os estados brasileiros. Estou colocando na mesa o óbvio: não se faz a manutenção e conservação de estradas por onde circulam milhares de veículos diariamente sem orçamento robusto e contínuo. E isso o DNIT não dispõe, aqui ou em qualquer outra parte do país. Quem executa, na atualidade, é a iniciativa privada, gostem ou não de ouvir os defensores da estatização da pesadíssima máquina pública.

Na lógica do bolso do motorista, concessão significa pagar pedágio. Na sua cabeça, quase não há espaço para discutir as vantagens e desvantagens do modelo. Nas mãos do governo federal, deixaremos de ter, nas BRs concedidas, atendimento mecânico, socorro médico com ambulância, guincho, serviços aos usuários e tantos outros que se pagam ao cruzar por uma cancela — que, repito, precisa ser mais barata.

A partir de 3 de março de 2026, vamos comemorar o fim do pedágio com muitos posts. Será um dia de celebração. Nas horas seguintes, a realidade irá se impor. Os municípios deixarão de receber milhares de reais em impostos e os telefones da concessionária ficarão mudos para atender aos pedidos de ajuda. Tudo porque o governo federal ignorou o encerramento do contrato, cuja data final todos sabiam, e colocou outras regiões à frente na agenda de leilões. Na verdade, sequer estamos na agenda hoje. Por quê? A resposta que ninguém assume está em Brasília, onde também estão os responsáveis.

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