Filas extensas, público curioso e encantado pela história de Pelotas. As milhares de pessoas que circularam pelos prédios do Centro Histórico, tombado em 2018 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Cultural Brasileiro, deixaram um recado: mais edificações precisam se unir para que a história da cidade se complete.
Para a próxima edição do Dia do Patrimônio, o desafio é ampliar o número de espaços disponíveis, como o Grande Hotel, o prédio das Finanças e a Casa do Senador Augusto Assumpção. Um sonho mais distante seria a inclusão de imóveis particulares, como o Clube Comercial e o Rex Hotel, que aguçam a curiosidade da população e poderiam integrar a lista de visitação nos próximos anos.
A prova do interesse está na grande procura pelo Theatro Sete de Abril e pelo Museu da Baronesa. Este último, em apenas duas tardes, recebeu mais de mil pessoas. De acordo com a Secretaria de Cultura de Pelotas (Secult), as obras de restauro no Theatro avançaram, restando apenas a instalação elétrica e a conclusão da caixa cênica para que volte a receber apresentações. “Tenho certeza de que no próximo Dia do Patrimônio a fila será para assistir a um espetáculo dentro do teatro”, afirmou a secretária, Carmem Vera Röig.
Um dos entraves, senão o principal, é a pendência com o Plano de Prevenção e Combate a Incêndios (PPCI). Situação semelhante ocorre com o Museu da Baronesa, que abriu de forma excepcional para o evento. A expectativa é que, com a aprovação do documento e a instalação de luminárias já adquiridas, o espaço volte a funcionar plenamente.
Prioridades
Espaços como o Palacete e o Castelo Simões Lopes permanecem fechados, mas há tratativas com o Ministério Público e produtores culturais para viabilizar a reabertura. A secretária lembrou que os processos são lentos, mas reforçou que há esforços para que esses prédios passem a integrar o roteiro do Dia do Patrimônio.
Combate ao vandalismo
Na praça Coronel Pedro Osório, além dos prédios emblemáticos que cercam o espaço, chamaram atenção o estado do chafariz das Nereidas, alvo de pichações, e da casinha do lago, abandonada após um incêndio. A prefeitura informou que já há um levantamento para a recuperação dos monumentos, além da realização de podas para preservar o calçamento. “Estamos buscando orçamento para recuperar os monumentos pichados. Além disso, o motor que fazia o Chafariz das Nereidas funcionar plenamente foi roubado”, revela a secretária. A ideia é trabalhar com medidas compensatórias de secretarias.
Para Carmem Röig, a palavra-chave é manutenção: “Não basta restaurar, é preciso garantir cuidado constante, com limpeza, reparos e acompanhamento técnico especializado. Só assim vamos assegurar que nossa memória permaneça viva por meio dos prédios históricos.” Um dos edifícios mais imponentes, porém em estado avançado de deterioração, o Clube Comercial conseguiu até hoje avançar apenas com a primeira etapa de restauro, que foi a cobertura. Com custos elevados e, por ser particular, as obras de recuperação não tiveram sequência, e o reboco da fachada pela rua Félix da Cunha já preocupa pedestres que circulam pelo local. O destino do prédio está nas mãos do Ministério Público. Ontem, o promotor responsável, José Alexandre Zachia Alan, esteve em audiências e deve atualizar as informações sobre a edificação nos próximos dias.
SITUAÇÃO DE ALGUNS PRÉDIOS
Prédios fechados
- Clube Comercial
- Hotel Rex – vendido em abril de 2024, permanece fechado.
- Belas Artes – A UFPel está na etapa de projetos executivos para revitalizar o prédio da antiga escola. Parte do recurso é oriunda da chamada pública Resgatando a História, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com apoio da Fundação Delfim Mendes Silveira (FDMS). Estimada em mais de R$ 6 milhões, a obra prevê: R$ 3,4 milhões do BNDES, R$ 950 mil da UFPel e R$ 1,9 milhão da Ambev. A previsão de conclusão é de três anos.
- Prédio do Senador Augusto Assumpção – Imóvel da Fundação Simon Bolívar foi a leilão em 2024 por R$ 1,2 milhão e não foi arrematado. Há uma proposta apresentada pela Fundação Municipal do Idoso, mas nada definido
- Castelo Simões Lopes – Ministério Público acionou o Município, que busca recursos para sua recuperação.
- Cine Teatro Avenida – prédio está à venda.
Podem abrir
- Grande Hotel – Intervenção parou após o fim do contrato com a
empresa licitada. Segundo a Coordenação de Obras e Projetos para Estrutura Física (COPF), cerca de 36% do projeto já foi executado. Foram investidos R$ 4,2 milhões e a previsão é de R$ 11,6 milhões no total, com recursos do Iphan. A UFPel pretende instalar ali o Hotel Escola e o curso de Hotelaria. - Prédio das Finanças – Após lei municipal que autorizou a concessão de uso ao Senac, aguarda-se a finalização do projeto executivo, em andamento, por um escritório de arquitetura contratado pelo Estado via Programa Iconicidades. Concluída esta etapa, o Senac inicia a licitação para a obra, estimada em 18 meses de execução. Os projetos preveem investimentos de R$ 8 milhões no telhado metálico e mais de R$ 5 milhões na parte inferior.
- Prédio do Centro de Integração do Mercosul – unidade acadêmica da UFPel.
- Liceu – Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo
- Conservatório de Música – em 3ª fase de restauro, com obras na fachada
- Clube Caixeiral – pela primeira vez em 11 anos não abriu no Dia do Patrimônio, em função de reparos.
- Catedral Metropolitana São Francisco de Paula – passa por reformas no piso.