Tarifaço dos EUA preocupa indústrias de arroz da região Sul

Economia

Tarifaço dos EUA preocupa indústrias de arroz da região Sul

Taxação de 50% deverá reduzir competitividade do produto no mercado americano

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Tarifaço dos EUA preocupa indústrias de arroz da região Sul
A medida deve afetar a cadeia orizícola, incluindo as 18 indústrias situadas na Região Sul do Estado.

As empresas de beneficiamento de arroz localizadas no Rio Grande do Sul demonstram preocupação com a taxação de 50% anunciada pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros. A medida deve afetar a cadeia orizícola, incluindo as 18 indústrias situadas na Região Sul do Estado.

Com a redução das exportações e a retração nas vendas, estoques, preços e operações podem ser pressionados, estima a assessora executiva do Sindicato da Indústria do Arroz de Pelotas (Sindapel), Daniele Braga.

De imediato, o produto brasileiro tende a perder competitividade, com o preço inflado pela tarifa e importadores americanos buscando novas alternativas. “Deve ocorrer queda no volume exportado. A tendência é que os contratos já firmados para o segundo semestre sejam renegociados, reduzidos ou cancelados”, projeta Daniele.

A expectativa da categoria é que a sobra do produto, com o redirecionamento da produção antes destinada aos EUA para outros mercados internacionais ou para o mercado nacional, gere margens menores, pressionando estoques e preços domésticos.

“A abertura de espaço para concorrentes com acordos comerciais mais favoráveis com os EUA pode fazer com que eles ocupem rapidamente o espaço deixado pelo Brasil. Reconquistá-lo depois é difícil. O arroz do Uruguai, por exemplo, já entra nos EUA com tarifas mais baixas devido a acordos regionais”, informa Daniele.

 

Produtores

Conforme o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Denis Dias Nunes, a taxação vai atrapalhar as exportações para os EUA, considerado um mercado importante. “Estávamos ganhando força lá, especialmente porque os americanos gostam do nosso arroz, que é de melhor qualidade”, explica.

Entretanto, Nunes ressalta que os produtores negociam pouco com o mercado americano. “Cerca de 20% do arroz brasileiro exportado é beneficiado. Desses, 13% foram destinados aos EUA — o que corresponde a apenas 2,6% da produção de arroz em casca do Brasil”, analisa.

 

Trabalho de uma década

O setor de exportação da Arrozeira Pelotas destaca o trabalho de mais de 10 anos realizado junto à ApexBrasil e ao Brazilian Rice para colocar o arroz brasileiro na mesa dos americanos. Em nota, a empresa relata que já há incerteza por parte de importadores americanos.

Indústrias associadas ao Sindapel com atuação internacional já tiveram contratos cancelados. Assim como há atenção especial para setores como pesca e carne, a indústria do arroz também espera respaldo, reforça Daniele.

 

Exportações para os EUA em alta

Antes do anúncio da taxação de 50% aos produtos brasileiros pelos EUA, a indústria do arroz vivia um bom momento. O mercado americano é considerado um dos mais relevantes para o arroz brasileiro, respondendo por 13% do valor exportado de arroz branco em 2023, segundo a Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz).

Entre 2021 e 2024, as exportações para os EUA aumentaram mais de 50%, considerando apenas o grão beneficiado. De acordo com a Abiarroz, o Brasil mantém nesse mercado um canal estratégico para escoamento de cerca de 10% do volume total beneficiado — percentual relevante para a sustentabilidade da atividade, considerando o equilíbrio entre oferta e demanda no país.

 

Alternativas esperadas

Entre as alternativas esperadas para mitigar as perdas do setor, Daniele destaca que, no curto prazo, é necessário evitar o acúmulo de estoques e preservar o fluxo de caixa, com ações como redução de preços, otimização logística e uso de acordos comerciais já existentes para manter as vendas ativas.

A médio prazo, a diversificação de canais de exportação e a redução da dependência de mercados instáveis devem ser prioridades, com investimentos em certificações de qualidade, marketing internacional e participação em feiras especializadas.

“No longo prazo, o foco está em consolidar novos mercados e ampliar o valor agregado do produto, por meio do desenvolvimento de variedades diferenciadas, negociação de acordos bilaterais e formação de consórcios exportadores para ganhar escala e competitividade”, diz Daniele.

Entre as principais reivindicações do setor estão o acesso facilitado ao crédito, sustentação de preços e apoio para reposicionar o arroz brasileiro em outros mercados.

 

Cenário nacional

A curto prazo, o cenário provável será de aumento da oferta interna e pressão por preços mais baixos. “A intensidade e duração desse efeito vão depender da capacidade do setor de redirecionar vendas para outros mercados e da política de estoques adotada pelo governo e pelas indústrias”, conclui Daniele.

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