Muito prazer. Jarbas com J

Opinião

Jarbas Tomaschewski

Jarbas Tomaschewski

Coordenador Editorial e de Projetos do A Hora do Sul

Muito prazer. Jarbas com J

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Foi em um bar, noutra cidade, que reencontrei a pergunta que me persegue há alguns anos em Pelotas e, admito, me irrita profundamente.

– Boa noite. Qual o seu nome, por favor?

– Jarbas.

– Com J?

Sim, pode rir, mas ela está presente na minha vida desde o momento em que os estabelecimentos, as reuniões sociais e os encontros de negócios começaram a pedir a identificação das pessoas.

Como assim, com J? Não existe outra maneira de escrever Jarbas a ponto de causar dúvidas. Coloque um G e veja como fica.

O mais difícil, nessa situação, é sempre saber como reajo (com J):

Se apenas concordo com quem questiona, sinto-me burro.

Se respondo com ironia, pareço mal educado.

Se fico em silêncio e apenas digo “sim” com a cabeça, pareço derrotado.

Reconheço, porém, que a vontade de colocar ainda mais lenha na fogueira é grande.

– É com G.

E aí, com os olhos fixos na pessoa, observar sua reação até ela perceber – ou não – que algumas regras da nossa escrita são cláusulas pétreas.

A língua portuguesa sofre, e o mundo criado pelo WhatsApp só piorou as coisas. Ali, tudo é aceito e se massifica no dia a dia, dando forma a alguns absurdos. Nunca foi tão fácil à sociedade se comunicar – e nunca nos comunicamos tão mal.

Na última semana, um conhecido tentou pedir um lanche em Pelotas, e o diálogo, simples, terminou confuso porque quem estava do outro lado da tela do celular jogou no lixo o sinal de interrogação e mudou completamente o sentido da frase mais importante da conversa. Foi assim:

– Boa noite. Poderia me mandar o cardápio?

– Me vê 2 baurus especiais e uma Coca Zero dois litros.

– Vem buscar

– É uma pergunta? Gostaria da entrega.

– Sim

A conversa exigiu paciência do cliente. O “vem buscar” soou quase como xingamento por parte do atendente. Até mesmo o “sim”, ao final, pouco sanou a dúvida. Ou confirmava que era uma pergunta, ou que a lanchonete desejava negociar a entrega.

“Jarbas é com J?” machuca e ofende. Tentei acreditar na capacidade dos que insistem nessa dúvida e não tratá-los como um caso de terceiro ano do fundamental mal resolvido. Fui ao Google – que também erra e virou oráculo de uma geração inteira – para brincar com o motivo da dúvida. Eis a resposta:

– “As pessoas perguntam se ‘Jarbas’ se escreve com ‘G’ devido a uma confusão fonética comum entre as letras ‘J’ e ‘G’ na língua portuguesa, especialmente quando associadas a nomes próprios. A letra ‘G’ pode ter um som semelhante ao ‘J’ em certas palavras ou contextos, levando a essa dúvida.”

Mas, com respeito a quem me questiona, não aceito. Tolero dúvidas com jiló, poliomielite e reivindicar. Porém, Jarbas sempre será com J. Meu nome não é a oitava maravilha do mundo, mas o carrego e me identifico, quase único no universo de milhares de pessoas até se encontrar outro. Somos poucos.

Jamais (com J) vou me livrar dessa maldição ortográfica, e o jeito (com J) é assinar a derrota. Se alguém me encontrar por aí de cabeça baixa, pode saber: estive em um local onde alguém ousou escrever meu nome de outra forma sem causar estrago no Aurélio. Eu conto até três, aceito o sorriso das pessoas ao redor e peço perdão à padroeira dos professores, Santa Teresa d’Ávila. Louco para dizer que é com G.

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