A ampliação do sistema de monitoramento de eventos climáticos pelo governo do Rio Grande do Sul está mais perto de tornar-se realidade. Após firmado o contrato com a empresa que será responsável por instalar e operar as 130 novas estações hidrometeorológicas do Estado, a expectativa é que os equipamentos estejam prontos para iniciar as medições até dezembro.
Diversas dessas estações serão instaladas na região Sul do Estado, com foco em mananciais que historicamente registram inundações e provocam transtornos a municípios. Entre eles, destacam-se o arroio São Lourenço, rio Piratini, arroio Pelotas, rio Camaquã, rio Jaguarão, canal São Gonçalo e a Laguna dos Patos. Essa rede permitirá o acompanhamento mais preciso e frequente das condições hidrometeorológicas nessas áreas, contribuindo para ações preventivas e de resposta mais eficazes.
O diferencial das novas estações está na produção de informações detalhadas com uma taxa de atualização de apenas 15 segundos. Os dados coletados estarão disponíveis em um site para consulta do público em geral. Na modalidade “nowcasting”, as previsões são produzidas em curtíssimo prazo, com foco em eventos extremos e impactos imediatos, o que oportuniza que os dados otimizem alertas e ações de resposta em tempo real. É uma ferramenta crucial para a gestão de riscos hidrometeorológicos, permitindo ações preventivas e respostas mais eficazes a eventos como enchentes e secas, cada vez mais recorrentes em território gaúcho.
Nesta semana, a Defesa Civil Regional acompanhou o transporte dos equipamentos que farão parte da estação na fronteira entre Jaguarão e Rio Branco, no Uruguai. O coordenador regional, Márcio Facin, reforça que a condução do projeto tem sido realizada de forma integrada e planejada por diversos setores. “Percorremos os municípios junto com a empresa contratada para identificar os pontos mais adequados à instalação, sempre com o apoio das prefeituras e das defesas civis municipais”, afirma.
Além disso, há a colaboração técnica das universidades da região: da UFPel, por meio do Núcleo Integrado de Previsões, e da Furg, com
Centro Interinstitucional de Observação e Previsão de Eventos Extremos (CIEX), que já unem esforços de vários setores para monitorar, prever e emitir alertas sobre eventos adversos climáticos e hidrológicos para toda a Zona Sul.
Como será o monitoramento
Os equipamentos são modernos e projetados para enfrentar os desafios de uma crise climática. Funcionam com energia solar, têm autonomia de sete a dez horas ,mesmo sem energia elétrica, e transmitem dados via satélite, fibra óptica ou redes móveis 4G/5G diretamente para os centros de controle da Defesa Civil. Medem chuva, temperatura, pressão, umidade e níveis dos rios — inclusive com redundância de sensores e câmeras apontadas para réguas hidrométricas.
Além disso, o modelo contratual contempla manutenção ágil pela empresa responsável em caso de falhas, assegurando o fluxo ininterrupto de dados. Os equipamentos serão instalados nos principais rios da região sul, com uma equipe que fará um levantamento complementar para dimensionar adequadamente a cobertura do monitoramento pelas estações hidrometeorológicas.
A assinatura do contrato com a MKS Sistemas/Qualle Control foi realizada em junho e, após a instalação das estações, a empresa terá 18 meses para operar e entregar os dados em um período de atuação de dois anos.
“Trata-se de uma evolução institucional na Defesa Civil do Estado, construída coletivamente com nossas equipes, municípios, saberes científicos e prefeituras. Estamos motivados, convictos de que esse sistema melhorará significativamente o monitoramento na nossa região e elevará a capacidade de prevenção e proteção para nossas comunidades”, garante Facin.
Ação das universidades
O diferencial da prática na Zona Sul do Estado, a partir das novas estações, está na integração com as universidades, que já desempenham um papel crucial no monitoramento de desastres climáticos. O trabalho integrado, já desenvolvido durante o período de enchentes em 2024, é um dos exemplos da capacidade de redução de danos a partir do acompanhamento e planejamento estratégico.
O Centro Interinstitucional de Observação e Previsão de Eventos Extremos (Ciex/Furg) nasceu da necessidade urgente de enfrentar os desafios causados pelos eventos extremos do ano passado, e reúne parceiros de mais de 20 instituições para monitorar, prever e propor soluções em tempo real para cenários críticos.
Outro braço da ação é o Núcleo Integrado de Previsão da UFPel, que está desenvolvendo um projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul, em um edital de desastres climáticos, onde estão desenvolvendo um sistema integrado de prevenção hidrológica e alertas em tempo real para os rios Piratini, Jaguarão e Camaquã. O projeto já foi apresentado para as prefeituras e os trabalhos iniciaram há algumas semanas. Serão produzidos, também, levantamentos importantes para a região com informações topográficas, batimetrias e medições de vazão dos principais rios da região Sul.
Sobre as parcerias científicas, o coordenador da Defesa Civil Regional destaca o enriquecimento da base técnica das decisões de localização e operação das estações. “Ao unirmos forças, garantimos que os equipamentos sejam instalados nos lugares mais estratégicos para fornecer dados confiáveis e em tempo real — fundamentais para antecipar alertas, informar a comunidade sobre níveis dos rios e riscos de enchentes ou inundações, e, acima de tudo, salvar vidas. Esse é o nosso propósito maior”, reforça Facin.