Na quinta reunião do ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter a taxa Selic em 15% ao ano, interrompendo o ciclo de sete altas consecutivas. Com a última elevação da taxa básica da economia, em 0,25 ponto percentual, o país tem o maior índice desde julho de 2006.
A decisão de manter a Selic em 15% já era esperada pelo mercado, conforme apontava o boletim Focus. A edição mais recente da pesquisa semanal com analistas financeiros indica ainda que a taxa deverá ser mantida no atual patamar até o fim de 2025. Desde setembro do ano passado, o índice foi elevado sete vezes seguidas.
Conforme o professor de Economia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) André Carraro, a decisão do Copom reflete as pressões inflacionárias persistentes e, principalmente, as incertezas geradas pela política comercial agressiva dos Estados Unidos com a taxação de 50% dos produtos brasileiros, que deve entrará em vigor amanhã.
Preservação da estabilidade monetária
O economista destaca que a escalada protecionista dos Estados Unidos tem gerado pressões inflacionárias mundiais e colocando os Bancos Centrais em um dilema complexo entre estimular o crescimento econômico ou controlar a inflação em meio à guerra comercial global. “Para o Brasil, isso significa manter juros em patamares elevados para preservar a estabilidade monetária e atrair novos investimentos em um contexto de incerteza internacional”.
Gestor de Portfólio do BTG Pactual, Luciano Gioielli analisa que a manutenção da taxa Selic em 15% é uma decisão coerente diante do quadro inflacionário. Para o gestor de investimentos, a política monetária restritiva se faz necessária para basear as expectativas do mercado e preservar a credibilidade da política econômica. “Em cenários de inflação persistentemente elevada, reduzir os juros de forma prematura poderia comprometer o processo de desinflação e gerar volatilidade adicional nos mercados”
No entanto, Gioielli acrescenta que um choque externo relevante, como o tarifaço dos Estados Unidos poderia alterar o balanço de riscos. E nesse contexto, o Banco Central poderia ser obrigado a avaliar medidas excepcionais de estímulo. “Incluindo cortes de juros pontuais, com o objetivo de sustentar a atividade econômica e oferecer fôlego especialmente às micro e pequenas empresas, mais sensíveis ao aperto monetário”.
Desaceleração da inflação
A decisão do Copom reflete, segundo o economista Marcelo Passos, a intenção de aguardar os efeitos do tarifaço, além de considerar o atual cenário de desaceleração da inflação.
“A inflação está começando a ceder, os indicadores têm começado a melhorar em termos inflacionários, então por isso essa manutenção da taxa de juros. E os efeitos vêm daqui a três ou quatro meses [da decisão]”.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) desacelerou para 0,24% em junho e para 5,35% em 12 meses. No entanto, o IPCA-15 de julho, que funciona como uma prévia da inflação oficial, veio acima das expectativas e acelerou devido a preços de energia e de passagens aéreas.
A elevação da taxa Selic
Depois de permanecer em 10,5% ao ano entre junho e agosto do ano passado, a taxa voltou a subir em setembro, com sucessivos aumentos: 0,25 ponto, 0,5 ponto, três elevações de 1 ponto percentual, mais uma de 0,5 ponto e, por fim, outra de 0,25 ponto.