A primeira edição da Feira de Ciências da Escola Estadual de Ensino Médio Nossa Senhora de Lourdes oportuniza a abertura de portas para o mundo da pesquisa científica e coloca os alunos como protagonistas do conhecimento. Durante três dias, o Lourdinha, como é carinhosamente chamado, está sendo o espaço para a participação de estudantes, professores e instituições de ensino superior.
Idealizada no ano passado pelas professoras Érika Bertosi, de Biologia, e Júlia Farias Ferreira, de Física, a feira saiu do papel com o objetivo de colocar os alunos no centro do processo de aprendizagem. “Eles são protagonistas. Não queríamos apenas uma exposição de experiências, mas um processo completo de pesquisa, reflexão e apresentação”, conta Érika.
Os trabalhos desenvolvidos por turmas do primeiro ao terceiro ano do Ensino Médio passaram por todas as etapas do método científico: elaboração de objetivos, justificativas, coleta e análise de dados, referências bibliográficas e conclusões. “Eles não só pesquisaram, como aprenderam a buscar fontes confiáveis, usar a inteligência artificial de forma crítica e apresentar os resultados oralmente para uma banca avaliadora”, explica Júlia.
Durante os turnos da manhã, a programação inclui palestras e oficinas com convidados do IFSul, da UFPel e de profissionais de diversas áreas, aproximando os estudantes do universo acadêmico e profissional. Na manhã de ontem, os alunos tiveram uma aula de geoprocessamento com profissionais e professores da área do IFSul. No segundo momento do dia, os alunos apresentaram seus projetos, avaliados por uma banca que irá eleger os melhores trabalhos da feira. Entre eles, a montagem de uma molécula de DNA feita com balas de goma, “peculiarmente doce”, como brinca a aluna Rafaela Martins Leivas, 16.
Entre os temas escolhidos, estiveram assuntos como jogos de azar entre adolescentes, a tragédia das enchentes de 1941 e 2024 e o uso da inteligência artificial. Para os alunos, a experiência foi marcante. Gabriele da Silveira Cardoso, 15, investigou os riscos dos jogos de aposta entre menores. “Descobrimos que muitos adolescentes já perderam grandes quantias. É um alerta importante”, afirma.
Já Arthur Jacundino Alves, 17, e João Victor Silveira Lopes, 18, ambos do terceiro ano, mergulharam na pesquisa sobre enchentes históricas em Pelotas e enfrentaram desafios como localizar imagens raras de 1941. “Foi difícil, principalmente na busca por imagens antigas, mas recompensador pelo resultado”, dizem.
A maior surpresa para Alves foi o convite para coordenar um projeto tão importante. “Isso mostra que os professores acreditam na gente”, resume o jovem que deve seguir na área acadêmica no curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas. “É muito bom ver que a nova geração de professores ainda tem esperança de que os jovens sejam o futuro do Brasil”, destaca o colega, que pretende cursar Jornalismo.
Para Lauren Rocha Boetgia, 18, que atuou na área de divulgação da feira, a realização do evento dentro de uma escola pública carrega ainda mais significado. “A educação pública tem qualidade e precisa ser valorizada. Que essa feira cresça ainda mais nos próximos anos”, deseja.
A iniciativa, segundo as organizadoras, não termina aqui. “É um processo contínuo. Nosso maior objetivo é provocar a curiosidade, incentivar a dúvida, o pensamento crítico. Se conseguirmos isso, já valeu a pena”, conclui a professora de Júlia.