Na semana em que o Dia do Voluntário das enchentes de maio é decretado para o dia 13 de maio, um exemplo de dedicação e desprendimento é relatado pela uruguaia, brasileira e pelotense Gisselen Gonçalves Oliva, 42. Nascida em Bella Unión, Departamento de Artigas, Uruguay, veio para o Brasil e se instalou em Pelotas, onde hoje atua como técnica administrativa do IFSul.
Com vocação para fazer algo ao próximo, ela foi uma das coordenadoras do projeto Meu Lar de Volta, que surgiu em Porto Alegre e se estendeu por todos os municípios atingidos pela enchente de maio de 2024. Em um momento de apreensão por causa da previsão de chuva e o aumento da Lagoa dos Patos, ela conta como foi sua experiência, principalmente na Colônia de Pescadores Z-3.
Como surgiu a ideia de ser voluntária?
Eu sou uruguaia, mas quando eu era pequena, os meus pais vieram para o Brasil. Tenho doble chapa e sou funcionária pública desde 2010. Quando passei por uma situação emocional, decidi fazer algo diferente e saí com um mochilão para poder ver o mundo mais de perto e entender o universo com mais detalhes. Fiz toda a América do Sul em 2018 e, na Colômbia, me relacionei com uma pessoa e acabei ficando até que veio a pandemia. Foi quando comecei a criar conteúdo digital, nas duas línguas, sempre com propósito de mostrar a experiência real do meu sonho de conhecer novos lugares e culturas. No entanto, um acidente mudou o curso da minha história e, depois de algumas cirurgias, acabei voltando para Pelotas e retomando a minha vida, onde também atuava fortemente nos esportes? Quando uma depressão se anunciava, em meio a enchente, pensei como poderia fazer para ajudar os atingidos. Foi quando me envolvi no projeto.
E como foi esse trabalho de recuperação dos lugares?
Eu sou voluntária de natureza e uma pessoa que ama Deus. Na enchente vi que as outras influenciadoras já estavam ajudando a conseguir abrigos e doações. Pensei em usar minha experiência para ajudar de outro jeito. Em Porto Alegre, onde começou a baixar a água primeiro, percebi a dificuldade na limpeza dos lares. Tinha muitos destroços, muita destruição, muito barro. Pedi para os bombeiros me levar até o Laranjal para fazer um vídeo de conscientização. O material foi em português e espanhol e o pessoal da capital que atua na área da tecnologia viu e me convidou para coordenar o projeto Meu Lar de Volta aqui. A plataforma unia quem ajuda e quem precisa de ajuda. A partir de então, comecei a divulgar nas redes sociais, procurar voluntários e a gente montou um grupo bem grande.
Como foi a adesão?
Fizemos parcerias e consegui 50 lava-jatos, produtos de limpeza, fora as outras empresas que juntavam coisas e mandavam para gente. No IFSul, conseguimos um espaço para colocar o material doado e a ação virou um projeto de extensão, com a participação de alunos.
Como foi o trabalho de limpeza?
No Laranjal fizemos uma reunião no Deck da Lagoa. Já no dia 18 de junho, quando deu para ir à Colônia de Pescadores, visitamos casas e a escola. Grande parte ainda estava debaixo da água. A partir de então conseguimos limpar as casas, mas o mais gratificante foi a escola, no dia 1º de julho. O educandário estava sem data para voltar a funcionar e com a ação, retornou antes do tempo imaginado. A Defesa Civil também ajudou. Durante uma semana limpamos toda a escola.
O que tu levas dessa experiência?
As pessoas que se solidarizaram viram o que foi. Contei uma equipe de voluntários que me apoiou bastante. Mesmo com dificuldades na minha mão, por causa do acidente, me senti útil limpando os locais. Grande parte do material que foi utilizado, como as máquinas de lavar jato e tudo mais, eu dei para escolas e para algumas instituições mais carentes e algumas lá nos dos pescadores. Outras estão em reserva, pois não sabemos o que pode acontecer. O certo é que estamos aqui para ajudar.
