Com a confirmação do primeiro foco de gripe aviária em granja comercial, em Montenegro, na região metropolitana de Porto Alegre, no mês passado, o Ministério da Agricultura prorrogou por mais 180 dias a portaria 782/2025. A normativa proíbe, em todo o Brasil, a criação de aves ao ar livre, com acesso a piquetes sem telas na parte superior, como uma forma de frear a proliferação do vírus da influenza aviária de alta patogenicidade, a H5N1.
Para a Zona Sul do Estado, de acordo com o engenheiro agrônomo e professor do curso de Zootecnia da UFPel, Jerri Zanusso, o impacto da proibição pode não ser tão significativo, por não ser uma região de avicultura tão desenvolvida, na comparação com a região Norte e a Serra Gaúcha.
Segundo ele, a falência da Cosulati em 2016 trouxe graves consequências para a avicultura local e grandes dificuldades financeiras, exigindo a habilidade de variação de mercado pelos produtores. Além disso, para os produtores, a decisão pode inviabilizar algumas práticas, pois encarece o sistema de criação, de acordo com o especialista.
Criação de aves livres
A portaria do governo federal fala em específico da proibição de criação de galinhas livres pelos sistemas colonial e caipira que, segundo Jerri, não são encontrados na região Sul. “É necessário fazer essa diferenciação. Essa portaria foi prorrogada porque as criações deste tipo abrem uma brecha na proteção dos criatórios comerciais.
As medidas de biosseguridade adotadas em criatórios convencionais tem uma proteção muito maior em relação a esses sistemas, que preconizam maior bem-estar animal, mas, ao deixar os animais fora do aviário, ficam mais expostos a uma série de problemas sanitários”, esclarece o professor.
Na Zona Sul, as marcas comerciais têm apresentado mais interesse na avicultura de postura, que é aquela destinada para produção de ovos para consumo humano. Nestes locais, a tendência é a criação de animais livres de gaiolas, mas dentro de galpões nos aviários.
Produtores afirmam lucro baixo
A presidente da Rede de Aves Livres de Gaiola da região, Nara Rosa, explica o impacto da proibição nos criadouros. “No que se trata do bem-estar das aves, fica um pouco afetado, que podem ficar estressadas e ocasionar uma baixa produção no sistema. Nosso tipo de criação é livre de gaiola, o que já é um sistema mais caro que o convencional”.
Sobre o reflexo na comercialização dos produtos, Nara pontua a baixa do lucro e o reflexo na continuidade da avicultura na região. “Além disso, nós [avicultores] ficamos apreensivos por ter ocorrido uma baixa do valor de venda do produto, o que suprimiu o lucro e estreitou, por exemplo, a possibilidade de melhorias no sistema e possibilidade de expansão da produção”, diz.
Situação atual da gripe aviária
Caso o Brasil complete 28 dias sem novos casos da doença em granjas comerciais após a contenção do foco, concluída em 21 de maio, o país poderá solicitar à Organização Mundial de Saúde Animal o restabelecimento do seu status de zona livre da doença, suspenso desde a confirmação do foco no Rio Grande do Sul.
Ao todo, 20 países suspenderam totalmente as importações de carne de frango do Brasil devido à gripe aviária, enquanto outros 19 países suspenderam as compras apenas do Rio Grande do Sul. Apenas quatro nações anunciaram embargo às compras do produto apenas da cidade de Montenegro.
O risco de transmissão do H5N1 para seres humanos é considerado raro, mas pode ocorrer principalmente através do contato direto com aves infectadas ou seus resíduos, ou ainda pela inalação do vírus em ambientes contaminados.
Posicionamento
Zanusso alerta para a existência dos criatórios de aves para subsistência (fundos de pátio), que não apresentam barreira alguma e podem ser uma brecha para a contaminação por H5N1.
Sobre as inspeções, a prefeitura de Pelotas afirma que não há aviários em Pelotas com registro na Vigilância Sanitária. Sendo em casa particular, o órgão não tem como atuar, já que por competência legal a atuação é exclusiva em estabelecimentos comerciais de venda a varejo ou a atacado direto ao consumidor.