A pequenez da Câmara de Vereadores

Opinião

Jarbas Tomaschewski

Jarbas Tomaschewski

Coordenador Editorial e de Projetos do A Hora do Sul

A pequenez da Câmara de Vereadores

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A saúde virou bandeira política em Pelotas. Transformou-se no trampolim para políticos exercitarem o que existe de mais abjeto na atividade parlamentar: o uso de uma área sensível na vida em sociedade para a autopromoção pessoal. Se o dia parece monótono e nenhum assunto mostra-se interessante, a fórmula já está pronta. Celular ou câmera na mão e dramas para contar na frente do Pronto Socorro, dos hospitais e dos postos de saúde.

É fácil para os vereadores se defenderem quando o dedo aponta e se cobra mais ética. Os principais argumentos costumam ser dois: 1. “Se não estivéssemos denunciando, a situação estaria pior” e 2. “Pessoas estão morrendo e ninguém faz nada”. Para a população dependente do Sistema Único de Saúde (SUS), o discurso cola, afinal, na doença o mais importante é ser atendido com agilidade e alcançar a cura.

Ocorre que a Câmara atingiu um nível tão baixo na qualidade de seus serviços que os parlamentares já brigam pelas pautas como se fossem os donos de um tema que, definitivamente, não têm responsabilidade na gestão, mas agem como se tivessem. Vereadores não contratam médicos e enfermeiras, não pagam salários, não controlam estoques de medicamentos, não emitem documentos de internação, não transferem pacientes de hospitais, não dirigem ambulâncias, não transportam doentes entre os municípios, não recebem pisos baixos. E, mesmo assim, autonomearam-se paladinos da saúde. Não existe hoje, para um político, tarefa mais fácil do que mexer nessa ferida e agradar famílias carentes de assistência.

Milagrosamente, os representantes locais carregam em seus discursos as soluções para todos os problemas da saúde. Sem considerar os fatores que cercam o complexo mecanismo da rede pública, usam a tribuna e suas páginas digitais com ares de especialistas e abusam dos pontos de interrogação: “Por que isso não é feito assim?; Por que as UBS não funcionam desse jeito; Por que, por que, por que…?” E assim fazem, com contribuições zero.

A última ‘briga’ entre os vereadores parar saber quem “era o pai da criança”, envolvendo a destinação de recursos aos hospitais, foi o ápice da pequenez do parlamento. Luta-se pelo objetivo mais baixo e não pelo mais importante, que é alcançar melhorias. Enquanto isso, temas e debates importantes à cidade seguem parados, deixados de lado em troca de likes na frente das UBS.

Fiscalizar é função dos parlamentares, eleitos para contribuir na construção de uma sociedade melhor e acompanhar de perto os atos do Executivo. Cobrar responsabilidade, ética e boa conduta é um direito dos cidadãos quando percebem o desvirtuamento de propósitos morais. A Câmara de Vereadores de Pelotas elegeu a saúde como bandeira para brigar com a prefeitura e servir de esteira à popularidade. Quer ser o pai e a mãe do filho que rende votos. Estamos muito próximos de um ringue, onde propósitos verdadeiros não entram.

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