Catolicismo mantém queda enquanto evangélicos e umbandistas crescem em Pelotas

Censo 2022

Catolicismo mantém queda enquanto evangélicos e umbandistas crescem em Pelotas

Percentual de religiões afrobrasileiras mais que dobrou e pessoas sem religião são o segundo maior grupo

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Atualizado sexta-feira,
06 de Junho de 2025 às 16:17

Catolicismo mantém queda enquanto evangélicos e umbandistas crescem em Pelotas
Número de umbandistas e candomblecistas crescem de 9,8 mil para 20,2 mil (foto: Jô Folha)

O IBGE divulgou nesta sexta-feira os dados do Censo 2022 sobre religião, revelando o panorama da religiosidade da população brasileira. Embora algumas tendências, como a queda no número de católicos e o crescimento das igrejas evangélicas, sejam generalizadas, Pelotas tem um cenário bastante diferente do resto do país. O grupo que mais cresceu foi o das religiões afrobrasileiras, que mais que dobrou, chegando a 7% da população.

O número de pessoas que se declara sem religião também cresceu, de 57,9 mil em 2010 para 68,6 mil em 2022, e representa 23,8% da população. Esse percentual é mais que o dobro das médias nacional (9,3%) e gaúcha (8,8%). Entram no cálculo ateus, agnósticos e pessoas com alguma crença, mas que não participam de uma religião.

Religiões afro mais que dobram

O grupo religioso que mais cresceu em Pelotas foi o das religiões afrobrasileiras, que hoje representam 7% da população. O número de pessoas que se declaram de Umbanda, Candomblé ou outras religiões de matriz africana mais que dobrou em relação ao Censo de 2010, quando eram 9,8 mil pessoas. Em 2022, passaram a 20,2 mil pessoas.

Enquanto Umbanda e Candomblé tiveram um crescimento acentuado em Pelotas, o número de espíritas teve um recuo similar ao que ocorreu no Brasil e no Rio Grande do Sul, passando de 26,2 mil em 2010 para 22,9 mil em 2022, quando eram 8% da população.

O babalorixá Juliano de Oxum, uma das principais lideranças das religiões afro-brasileiras em Pelotas, comemora o crescimento no percentual de pessoas que se identificam com as religiões de matriz africana. Ele considera a autodeclaração como resultado das leis contra a intolerância religiosa e as ações de conscientização. “Antigamente, as pessoas tinham medo de se autodeclarar de matriz africana ou de povo de terreiro, isso mostra que a população de povo de terreiro sempre foi a maior”, afirma.

Na mesma linha, o presidente do Conselho Municipal do Povo de Terreiro, babalorixá Rodrigo de Bará, disse que ficou surpreso e feliz com os dados do Censo. Ele lembra que, por décadas, essas religiões sofreram marginalização, preconceito e racismo. “A sociedade passou a discutir mais abertamente a intolerância religiosa, especialmente após casos de ataques a terreiros e a praticantes”, afirma. 

Para ele, a autodeclaração também é um gesto político e cultural. “Ao se reconhecerem publicamente, essas pessoas desafiam séculos de apagamento e reafirmam a importância da ancestralidade africana na formação da identidade brasileira”, afirma.

Queda do catolicismo é tendência nacional

Segundo a pesquisa, os católicos continuam sendo a maioria em Pelotas, representando 33,6% da população. O percentual, no entanto, é quase a metade da média gaúcha (60,6%) e brasileira (56,8%). O número de católicos em Pelotas teve uma queda acentuada, de 32%, passando de 142,6 mil no ano de 2000 para 97 mil em 2022.

O padre Darvan da Rosa, capelão da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), avalia que a queda no número de católicos em Pelotas segue uma tendência nacional, que é acentuada pela cultura local, com menos influência da imigração italiana e germânica, e mais influência do laicismo e do secularismo uruguaios.

“Se tinha como algo cultural se autodenominar católico, mas não ter prática religiosa. Hoje em dia venceu-se esse tabu e as pessoas se sentem mais livres para manifestar outras crenças”, explica o padre Darvan. Segundo ele, o Censo de 2022 ainda não reflete o movimento de pessoas mais jovens que se aproximam do catolicismo. “Esse fenômeno parece ser uma reação à chamada liquidez da atual sociedade, que leva os jovens a buscar algo mais sólido e seguro”, afirma.

Evangélicos em crescimento

Já os evangélicos representam o segundo maior grupo religioso de Pelotas: são 22,7%. Os evangélicos tiveram um crescimento de 32,3%, passando de 49,5 mil em 2000 para 65,6 mil em 2022. O crescimento das igrejas evangélicas no município segue a tendência nacional, mas com muito menos força. No Brasil, os evangélicos aumentaram 128% no mesmo período, e hoje representam 26,9% da população. No Rio Grande do Sul, são 21,4%.

Enquanto no Brasil e no Rio Grande do Sul os evangélicos são a segunda maior fatia da população, em Pelotas, o número de pessoas que se declaram sem religião superou o de evangélicos e hoje chega a 23,8% da população, bem acima da média nacional (9,3%) e gaúcha (8,8%). O grupo sem religião inclui ateus, agnósticos e pessoas que têm algum tipo de fé, mas não participam de um grupo religioso organizado.

O pastor Naldo Oliveira, presidente da Associação dos Pastores Evangélicos de Pelotas, afirma que o aumento no percentual de evangélicos “demonstra que é cada vez maior o número de pessoas que estão conhecendo Jesus”. 

Ele atribui esse crescimento ao cumprimento de profecias bíblicas. “As escrituras dizem que no final dos tempos, quando estivesse próximo o retorno de Jesus, o Messias, haveria uma expansão na propagação da Palavra de Deus, e muitos seriam despertados do sono espiritual e se voltariam ao Pai da Eternidade, Yahweh”, diz.

Mais detalhes do Censo

O Censo também mostra o percentual de pessoas de outras religiosidades, o que inclui testemunhas de Jeová, mórmons e adventistas, por exemplo. Hoje, pessoas dessas religiões representam 4,5% da população, e tiveram um crescimento de 8,1 mil para 13 mil.

Já os espíritas, depois de terem tido um crescimento no Censo de 2010, caíram de 26,2 mil para 22,9 mil e hoje representam 7,95%, um índice bem maior do que a média gaúcha (2,86%) e que a média nacional (1,84%).

Cerca de 1,1 mil pessoas não souberam responder ou não declararam a religião. Os dados divulgados pelo IBGE são dos resultados preliminares do Censo 2022, em pesquisas realizadas por amostra em todo o país.

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