É preocupante o movimento do governo federal de restringir, mais uma vez, o recurso previsto para as instituições federais de ensino. O movimento que começou na gestão de Michel Temer, ganhou tração com Jair Bolsonaro e retorna com Lula, prejudica não só o ambiente acadêmico. Universidades são atores presentes em diversos núcleos das comunidades em que estão inseridas. Prestam, muito além do ensino, atividades de pesquisa e extensão. E é nesse tripé de atribuições que a comunidade inteira é atingida.
Em Pelotas, a UFPel é um exemplo de diversas frentes de atuação. Só na saúde, para ficar no mais importante, possui um hospital, atende diversas UBSs, oferece atendimento em odontologia via SUS, presta apoio em saúde mental à rede pública, entre tantas outras coisas. Atua também em parcerias com poder público para infraestrutura e patrimônio, oferece apoio jurídico com os cursos de direito, atua na encubação de startups e empresas, gera patentes (como visto na capa de quinta-feira) e mais tantas outras coisas que encheriam este espaço.
Dessa maneira, é absurdo que governo após governo reorganizem as regras do jogo orçamentário durante o ano. Virou costume na última década as reportagens em que reitores se escabelam dia após dia para tentar organizar as contas. Em 2022, por exemplo, houve um dia em que o governo federal mudou três vezes a liberação de recursos para a UFPel e o IFSul. Três vezes em uma tarde. Como ter planejamento e gestão dentro de um contexto em que tudo muda o tempo todo e amanhã já não se sabe quanto de verba haverá em caixa?
É importante compreender que o orçamento federal depende de diversos fatores e mudanças como a do IOF e outras questões impactam diretamente no cálculo final dos trilhões de reais que passam anualmente pela máquina pública. Mas as instituições não podem sofrer com isso sem o mínimo de organização prévia, é desrespeitoso não só com os gestores, mas com toda a comunidade acadêmica e a sociedade que se beneficia direta e indiretamente de sua atuação.