Depois do mapeamento das salas de cinema e cineteatros e coleta de memórias afetivas, o Pequeno Inventário de Plateias abre neste domingo um edital de seleção para artistas visuais e/ou multidisciplinares de Pelotas interessados em produzir obras, que dialoguem com os depoimentos recebidos na primeira fase do projeto. Os trabalhos selecionados serão apresentados na exposição coletiva, que inaugura no dia 8 de agosto, na sede da Secretaria Municipal da Cultura. As inscrições devem ser feitas até o dia 25 de junho pelo site www.inventariodeplateias.com.br.
A proposta é escolher dez artistas, que usem diferentes técnicas, como fotografia, pintura, ilustração, colagem, escultura, instalação e técnicas mistas, residentes da cidade. Os selecionados terão como tema da obra memória coletiva e afetiva, espaço urbano, patrimônio e cinemas de calçada. As propostas aprovadas receberão R$2 mil para custeio de produção.
Período nostálgico
O Pequeno Inventário de Plateia surgiu em 2019, conta a professora Tainah Dadda, uma das idealizadoras da proposta, junto com Renato Cabral. “Foi durante a pandemia, ficamos muito nostálgicos e pensando sobre os lugares e nas pessoas que nós estávamos distantes”, conta. Na época eles estavam em Portugal fazendo mestrado.
Tainah não é de Pelotas, mas conhecia a cidade e Renato Cabral é pelotense. A primeira versão do projeto surgiu como um trabalho acadêmico, depois Tainah o reelaborou para criar Pequeno inventário no formato atual. O objetivo é resgatar a memória afetiva dos antigos cinemas de calçada de Pelotas.
Mapeamento
A dupla fez um mapeamento e elencou 33 teatros/cinemas em Pelotas desde o início do século 20, sem contar locais alternativos que tinham sessões de cinema, como o teatro do Colégio Gonzaga. Esse trabalho ainda não foi finalizado. “É a pesquisa documental, que eu e o Renato estamos fazendo”, fala a proponente do projeto que tem fomento da Lei Complementar n. 195/2022, Lei Paulo Gustavo.
“De 1909 até 1920, nós temos elencadas 13 salas de exibição. Antes disso, de 1901 a 1909, o Sete de Abril e outros salões e clubes da cidade exibiam imagens em movimento esporadicamente, através de projecionistas ambulantes ou companhias de teatro, circo ou de variedades, que possuíam e levavam equipamento”, conta Tainah. Sendo que a primeira exibição de imagens em movimento em Pelotas aconteceu em 1896, na Bibliotheca Pública Pelotense, apenas um ano depois da primeira exibição em Paris.
O número dessas salas começou a diminuir a partir da década de 1950, segundo os pesquisadores. “As aberturas de novos cinemas continuam com bastante fôlego na década de 1920, entre os anos 40 e 60, ainda que com menor intensidade, acontece a descentralização, com os cinemas em bairros, como o Fragata e o Areal. Mas o declínio realmente é mais perceptível a partir da década de 1980”, acrescenta a pesquisadora.
Memórias inspiradoras
A outra etapa da proposta foi coletar depoimentos de quem viu algumas dessas salas em funcionamento. Foram 45 relatos, sendo que o mais velho depoente tem 83 e o mais jovem, pouco mais de 30 anos. “Mas a média ficou nos 45-50 anos”, diz a professora. Para finalizar, cada artista selecionado nesta chamada pública vai receber uma dessas memórias para se inspirar.