A antropóloga Liza Bilhalva Martins, doutora em Educação Ambiental, trabalha há mais de 15 anos com patrimônio cultural e educação patrimonial, desenvolvendo projetos em parceria com a arqueóloga Marta Bonow Rodrigues, através da empresa Alma Patrimônio Cultural e Ambiental. Desde 2018, junto com a Perene Patrimônio Cultural, tem atuado na Catedral Metropolitana São Francisco de Paula e na Igreja Sagrado Coração de Jesus e em janeiro deste ano finalizou o Projeto Lacorpi/UFPel- Ação Brasília: Patrimônio Cultural dos Palácios Presidenciais: valorização e promoção da democracia a partir da conservação-restauração dos bens culturais vandalizados do Palácio do Planalto.
Qual a importância de se tratar desse assunto, especialmente com crianças?
A gente só cuida daquilo que a gente conhece. Por isso, a Educação Patrimonial é uma etapa fundamental durante a execução de projetos envolvendo bens patrimoniais materiais ou imateriais. A troca de experiências constantes entre as comunidades, as crianças e os agentes responsáveis pela preservação, possibilita o acesso mútuo ao conhecimento a partir das diferentes formas de perceber o mundo.
Assim, por meio do processo educativo, pode-se ter uma perspectiva mais ampla das relações que diferentes grupos mantêm com o patrimônio, reforçando a inclusão e acessibilidade, ao mesmo tempo em que se ampliam as noções sobre bens patrimoniais, para promover a valorização, preservação e conservação do patrimônio. O conhecimento crítico e a apropriação consciente do Patrimônio são elementos imprescindíveis para o fortalecimento dos sentimentos de identidade e cidadania, sobretudo com as crianças, as quais desenvolvem um senso de pertencimento e responsabilidade pela preservação da cultura, tornando-se agentes de mudança positiva.
Tu que trabalhas muito com crianças, como percebes a resposta deles? Tem sido positiva?
Muito, as crianças e os jovens são públicos especiais para trabalhar, percebemos rapidamente a transformação na percepção sobre a história, a cultura, o pertencimento e a identidade. É incrível a mudança na autoestima e no interesse em cuidar daquilo que passa a ser percebido como delas. O processo educativo de conhecer o patrimônio e a história do bem que se entrelaça com a história da cidade, do estado, do País, do mundo e de todos nós, é de fato muito transformador tanto para as crianças como para jovens e adultos.
Achas que focar nas crianças é essencial? E os adultos também é possível fazer as pessoas com mais idade olharem o patrimônio com outros olhos?
O processo educativo é transformador porque ele te coloca em relação com o patrimônio, ele aproxima. A cada visita guiada, a cada atividade de roda de conversa, a cada atividade artística que desenvolvemos, as pessoas estão ali, aprendendo, olhando, tocando, vivendo aquela experiência. Há certamente um ajuste nas lentes, há um despertar.
Que iniciativas faltam em Pelotas, que tem um patrimônio histórico reconhecido, para que as pessoas se apropriem e protejam essa riqueza cultural?
Eu acho que temos ações importantes acontecendo na nossa cidade, mas é claro que poderíamos desenvolver sempre mais, como por exemplo promover ações educativas atentas à democratização do acesso ao patrimônio histórico, no reconhecimento e valorização dos patrimônios dos bairros periféricos e do desenvolvimento da escuta sensível das comunidades a cerca de pertencimento, apropriação, valorização e preservação.