Um terço da população da Zona Sul está inadimplente, conforme levantamento de abril do Serasa Experian. Ao todo, são 281 mil consumidores que acumulam uma dívida total de R$ 1,58 bilhão, com uma média de R$ 5.610,14 por devedor.
Para o professor de Economia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Gabrielito Menezes, o cenário evidencia um desafio estrutural para as famílias da região. “O mapeamento territorial da inadimplência evidencia uma forte concentração em municípios de maior porte, como Pelotas e Rio Grande. Estes dois municípios, juntos, concentram mais de 69% do total de inadimplentes da região, reforçando a hipótese de que o dinamismo econômico e a urbanização, embora associadas a maiores oportunidades, também estão correlacionadas a níveis mais elevados de endividamento”, destaca.
Chuí e Rio Grande preocupam
Apesar de Pelotas registrar o maior número absoluto de inadimplentes, com 114.041 pessoas negativadas (33,93% da população), é o Chuí que apresenta o maior percentual proporcional, com 40,88% dos habitantes com dívidas vencidas. Na sequência aparecem Rio Grande (40,61%) e Jaguarão (36,20%).
Com um ticket médio de R$ 6.231, os dados de Rio Grande são “muito consideráveis” e preocupantes, conforme o economista da Furg Eduardo Tillmann. “Rio Grande tem um percentual alto de pessoas endividadas, o que representa um alto valor em termos absolutos por ter muita gente endividada e ainda um ticket bastante considerável, que também está entre os maiores da região”, explica.
Crédito mais caro e inflação
Ambos os especialistas apontam o aumento da taxa básica de juros (Selic) e a inflação como um dos principais fatores para o crescimento da inadimplência. A taxa, que era de 11,25% em fevereiro de 2024, subiu para 14,75% neste mês, o maior percentual desde 2006.
“O aumento da taxa de juros significa o aumento do custo dos empréstimos. Então quer dizer que as pessoas podem estar buscando maior endividamento em função da inflação, mas o custo desse endividamento tem uma tendência de aumento em função justamente desse aumento da taxa de juros que estamos vivendo nos últimos meses”, analisa Tillmann.
Menezes concorda e afirma que “a persistência de taxas de juros elevadas encarece o crédito e compromete a capacidade de pagamento das famílias”. Ele ainda considera o impacto da desaceleração de alguns setores do mercado de trabalho, “o que impacta negativamente o fluxo de rendimentos das famílias da região”.
Renegociação e educação financeira
Frente ao cenário, Menezes reforça a importância de ações coordenadas entre o executivo e a sociedade. Medidas como programas de renegociação de dívidas, linhas de crédito com juros mais baixos e políticas de educação financeira são apontadas como saídas viáveis para reduzir o endividamento. Já Tillmann observa que a melhora no cenário econômico se dará a partir da estabilização do mercado, com o término da guerra comercial entre Estados Unidos e China.