“O patrimônio é bom para pensar, mas também para agir”

Abre aspas

“O patrimônio é bom para pensar, mas também para agir”

Olivia Nery é professora de Museologia da UFRGS e coordenadora do projeto Caminho Fabril

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Atualizado segunda-feira,
19 de Maio de 2025 às 11:12

“O patrimônio é bom para pensar, mas também para agir”
Projeto resgata memória histórica das indústrias de Rio Grande

O passado fabril pode ser percebido, pelos olhos atentos, nas ruas de Rio Grande e Pelotas, cidades importantes para o desenvolvimento industrial da região sul. Com o objetivo de resgatar a memória da população em relação a esse passado, o projeto Caminho Fabril vem ganhando destaque em premiações por todo o Estado, além de valorizar a história dos trabalhadores e trabalhadoras das fábricas rio-grandinas da década de 1950.

Através da construção conjunta com a comunidade de um mapa, identificando a localização das indústrias, e da realização de passeios guiados onde a história é contada, o Caminho Fabril busca conscientizar a comunidade sobre a importância de conhecer o passado e refletir sobre a história de centenas de famílias rio-grandinas que estão relacionadas com a história industrial.

Como teve início a ideia do Caminho Fabril?

Em 2019, enquanto eu ainda estava fazendo o Doutorado em História, pesquisei a fábrica Leal, Santos & C. e, durante o estudo, me questionava sobre onde estavam todas essas fábricas que faziam de Rio Grande uma cidade das chaminés. Mesmo rio-grandina, historiadora, desconhecia grande parte desses locais e suas histórias. Então senti muito a necessidade de tornar mais visível, organizado e divulgado todas essas informações. Entre 2020 e 2022 fiz grande parte da pesquisa e a criação do mapa virtual com a localização de fábricas e espaços relacionados com o patrimônio industrial de Rio Grande.

Entre 2023 e 2024 o caminho fabril se transformou em um Projeto de Extensão da UFPel, e as caminhadas que iniciaram em 2022 se intensificaram. O projeto foi crescendo, ganhando mais alcance, foi premiado duas vezes em nível estadual e teve outros apoios importantes.

De que forma entender a história fabril de Rio Grande pode impactar no desenvolvimento atual da cidade?

Entender nossa história nos dá ferramentas para compreender quem somos, que futuro queremos construir e como chegamos até aqui. O conhecimento sobre o passado nos mostra que aquilo que parece “natural”, na realidade é uma construção histórica e social. Possibilita questionarmos nossas realidades, identificar os jogos de interesse e a nossa posição no mundo.

Quando a maior parte da população se sente ouvida, representada e parte dessa história, fica muito mais fácil de se apropriar dessa cidade, de querer algo melhor para ela, de lutar por uma nova vida individual e coletiva.

O patrimônio é um dos caminhos possíveis, concordo muito com um antropólogo que diz que o patrimônio é bom para pensar, mas também para agir.

Como a comunidade pode participar e quais são os próximos passos do projeto?

O Caminho Fabril é essencialmente colaborativo. As pessoas são convidadas a participar, tanto das atividades que são voltadas diretamente para o público, como a caminhada (presencial ou virtual), como a construção das informações do mapa. No site do projeto, a pessoa pode preencher um campo do formulário enviando as suas memórias sobre algum lugar ou indicar algum lugar que ainda não está identificado. Podem ser enviadas memórias, não somente da pessoa, mas de um familiar que trabalhou em algum desses locais, ou que viveu na época do “boom” das fábricas rio-grandinas, e que cresceu ouvindo essas histórias. É possível participar também pelas redes sociais.

Em 2025, o Caminho Fabril é um projeto de extensão da UFRGS, onde sou professora do curso de Museologia, e as ações continuarão acontecendo, mas principalmente no formato online. As caminhadas presenciais seguirão, mas com menos frequência. Outros projetos ainda estão no forno e serão divulgados nos próximos meses.

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