Certamente, Vicente Sacco Netto sentiria orgulho e satisfação ao saber que seu bisneto, João Pedro Sanguiné de Andrades, de 10 anos, hoje percorre os mesmos caminhos que ele rumo ao Colégio Gonzaga. Representando a quarta geração da família na escola, o estudante relembra a trajetória do bisavô em um trabalho para a disciplina de História, sua matéria favorita.
São muitas as lembranças que unem a família Sacco Sanguiné à escola, que hoje é a segunda casa de João Pedro. Para os irmãos Leon Sanguiné e Nicoli Sacco Sanguiné, mãe de João Pedro, o colégio foi um espaço de criação de laços que permanecem até hoje. “O Gonzaga sempre me trouxe boas lembranças do espaço, como o parquinho e a biblioteca, que é histórica”, relembra Leon.
Para Nicoli, as memórias do colégio antecedem sua própria experiência, quando sua mãe e suas tias estudaram lá. Ela recorda que, quando foi estudar no Gonzaga junto com seu irmão, isso representou uma realização para seu avô e sua mãe. “Agora é a vez do meu filho. Sempre que entro lá para buscá-lo, é uma nostalgia, como revisitar o ambiente. Muitas memórias vêm à tona”, comenta.
A história da família começou em 1951, quando a mãe de Vicente buscou uma bolsa de estudos no Colégio Gonzaga. O parentesco com o Papa Pio XII e uma audiência com o bispo de Pelotas, Dom Antônio Zattera, foram determinantes para que o estudante ingressasse na escola com uma bolsa integral.
Vicente aproveitou a oportunidade ao máximo, dedicando-se com afinco aos estudos e iniciando uma relação com o colégio que perdura até hoje. Permaneceu na escola até 1960, ano em que concluiu o curso Técnico em Contabilidade. A partir de 1958, aos 14 anos, passou a pagar as mensalidades, frequentando as aulas à noite.
Ao relembrar sua rotina escolar, Vicente destacava a frequência das aulas de religião pela manhã, a participação no canto orfeônico com repertório de hinos religiosos, além da entoação do hino do Colégio Gonzaga. Pelo bom desempenho, chegou a representar a escola em Porto Alegre, em um concurso estadual de catecismo.
Experiência compartilhada
Ver o desempenho do neto Leon com as bolinhas de gude foi um dos motivos que levou Vicente a retornar ao Gonzaga. “Tenho essa lembrança muito viva, do momento em que meu avô foi me ver jogar no colégio em que ele também estudou. Aprendi a jogar bolinha de gude com ele”, conta Leon.
Compartilhando lembranças com a tia, que também estudou no Gonzaga, Leon mantém o sonho de ver seus filhos, um dia, usando o uniforme vermelho da escola. “Era um sonho que toda a família tinha, e ele se realizou quando vimos o João Pedro estudar no colégio”, diz.
Para Nicoli, ter estudado no mesmo colégio que seu avô é gratificante, especialmente por saber da importância que ele atribuía à educação de qualidade. “Ele sempre fez questão de que tivéssemos uma boa formação, uma base sólida para o futuro. Meus pais também sempre valorizaram muito a educação, e isso vem sendo passado de geração em geração”, afirma.
Lembranças espaciais
Leon, Nicoli e João Pedro guardam boas recordações dos espaços do Colégio Gonzaga. Jornalista por formação, Leon lembra com carinho do tempo dedicado à leitura na biblioteca. Foi ainda na escola, ao elaborar um jornal para uma disciplina, que despertou sua vocação para o trabalho com a palavra e a informação.
“Como venho de uma família de jornalistas e publicitários, fizemos o jornal em casa. Ficou muito bonito, foi elogiado em aula e essa experiência me revelou o desejo de seguir por esse caminho”, relata Leon.
Outro espaço que marcou o jornalista foi o emblemático laboratório de Ciências do Gonzaga — admiração que também é compartilhada por seu sobrinho. “Na segunda aula de Ciências, usamos o microscópio. Tinha um bichinho (micro-organismo) que era minúsculo e conseguimos vê-lo enorme”, relata João Pedro.
A biblioteca também é outro espaço querido pelo estudante, assim como foi para o tio. “Vou à biblioteca com meu melhor amigo, Teo Rosa. Usamos os computadores e, junto com mais dois amigos, ficamos lá trocando cartas Pokémon”, conta.
Para Nicoli, a mística dos corredores — ainda presente — foi dividida com João Pedro nos seus primeiros dias de aula. “Mostrei a ele as salas em que estudei, e hoje ele vive tudo aquilo que vivi.”
Nicoli escolheu a área de Design de Moda como profissão e acredita que a educação recebida, o incentivo à arte, à história e à criatividade foram decisivos para essa escolha. Entre as lembranças mais queridas, ela guarda com carinho as festas juninas e as olimpíadas. “Adorava a organização das festas juninas no colégio. Participava de muitos sorteios e, em vários anos, ganhei porquinhos-da-índia”, relembra.
As Olimpíadas escolares, realizadas anualmente, são hoje um momento compartilhado por Leon, Nicoli e João Pedro. “Nos preparávamos a semana toda para a abertura. A gincana para arrecadação de alimentos para entidades assistenciais era muito legal, pois envolvia várias atividades”, diz Nicoli.
Legado que fica
Ao optar pelo Colégio Gonzaga, Nicoli considerou a sintonia com a proposta pedagógica da escola. A designer conta que buscou a melhor opção de ensino em Pelotas para seu filho mais velho. “Contei para ele várias das minhas experiências — sobre os laboratórios de Ciências e Biologia, as brincadeiras nos corredores, o pátio e tantos outros espaços pelos quais passei.”
Nicoli acredita que, se seu avô Vicente estivesse vivo, ficaria muito feliz ao ver o bisneto correndo pelos corredores da escola. “João Pedro é o bisneto mais velho dele. Acho que ele estaria muito emocionado por estarmos falando sobre ele e contando essa história.”