Cerca de uma semana depois da ação de limpeza realizada pela prefeitura no canal do Pepino, na avenida Juscelino Kubitschek, o local já voltou apresentar acúmulo de lixo e entulho. A reincidência em um pequeno intervalo entre as limpezas expõe um desafio que vai além da atuação do poder público: o comportamento da população em relação ao descarte de resíduos sólidos.
Mesmo que os esforços da prefeitura para manter a drenagem urbana funcional sejam identificados, a prática cotidiana de jogar lixo em espaços públicos é um dos principais atores negativos contra esse processo. Ontem, por exemplo, enquanto as máquinas continuavam o trabalho de limpeza do canal do Pepino, no prolongamento da avenida Bento Gonçalves, o serviço contrastava com a sujeira metros adiante, no mesmo escoadouro, por onde as equipes já passaram.
Conforme a prefeitura, as margens dos canais próximos às casas de bombas Anglo e Leste são exemplos de locais constantemente invadidos por entulhos e demais resíduos. As limpezas precisam ser feitas no mínimo a cada 15 dias, sendo intensificadas nos períodos de chuva.
O mototaxista Paulo César Cardoso, de 52 anos, diz ter perdido as contas de quantas vezes flagrou pessoas jogando sacolinhas de resíduos às margens do canal. Enquanto manifesta indignação em relação ao problema “normal”, o trabalhador também sente impotência quando tenta solucioná-lo. Paulo já tentou impedir a ação de alguns desses indivíduos, mas foi xingado e preferiu evitar conflitos. “O pessoal prefere o caminho mais fácil. Um larga [o lixo], o outro vê e faz igual. Acha que não vai dar problema”, analisa.
Além de sacolas plásticas, caixas de papelão e embalagens, é comum ver restos de móveis, eletrodomésticos quebrados e até animais mortos atirados em áreas comuns que servem de depósito informal de lixo. A moradora do bairro Navegantes, Rosenilda Furtado, relata que, mesmo com a coleta e limpeza frequentes da prefeitura, o lixo reaparece rapidamente. “Não é possível que as pessoas não entendam que estão prejudicando a si mesmas”, ela desabafa, “parece que não têm noção do problema que causam”.
“Todo mundo faz”
Para a psicóloga Mariana Aires, existem fatores psicológicos que influenciam esse comportamento poluidor. Segundo ela, se a pessoa vê que o ambiente ao seu redor está limpo e que os outros descartam o lixo corretamente, ele tende a seguir essa ação. Por outro lado, em lugares onde o descarte irregular é comum, as pessoas sentem menos pressão para agir corretamente. “As normas sociais (o que percebemos que “todo mundo faz” ou “deve fazer”) têm enorme influência”, aponta.
Em um cotidiano já cheio de decisões e pressões, o cuidado ambiental pode ser visto como mais uma “carga” mental, a especialista salienta. Em situações de estresse ou cansaço, as tomadas de decisões são mais automáticas e menos éticas. Além disso, muitos veem o impacto ambiental como algo distante no tempo, como “o problema só vai estourar no futuro”. Para Mariana, esse distanciamento faz com que a urgência da ação seja minimizada.
Trabalho de consciência ambiental
O Sanep atua em parceria com o curso de Engenharia Sanitária Ambiental junto às comunidades acadêmica e escolar para disseminar a consciência ambiental, com foco na preservação dos espaços públicos. Segundo a prefeitura, os trabalhos preventivos de limpeza das estruturas pluviais comprovam que há muito o que evoluir nesse sentido.
Campanha de descarte correto
Está sendo planejada para os próximos meses uma campanha de descarte correto dos resíduos, com o apoio dos veículos de mídia. A expectativa é atingir o maior número de pessoas possível e sensibilizar a população sobre o papel de cada indivíduo diante do coletivo.
Revisão da legislação
Neste momento, segundo a prefeitura, há uma ação triangular entre Sanep, Urbanismo e Secretaria de Qualidade Ambiental, no sentido de revisão da legislação vigente, para haver, uma vez identificado o infrator que joga lixo em canais ou em terrenos baldios, que ele seja definitivamente punido e que haja consequências.
Cercamento eletrônico
De outra forma, no futuro, onde houver um programa mais avançado de segurança pública, com câmeras espalhadas por toda a cidade, chamado cercamento eletrônico, será possível também identificar esse tipo de ilegalidade, flagrando aqueles que o fazem.