Com atendimentos eletivos suspensos desde dezembro e a demissão coletiva de 20 médicos há cerca de um mês, a crise na Santa Casa de São Lourenço do Sul se tornou questão do Ministério da Saúde. A pedido da prefeitura, o Departamento Nacional de Auditoria do SUS (Denasus) irá realizar a inspeção das contas e das atividades do hospital. Em breve, uma equipe técnica será encaminhada para realizar a investigação presencialmente.
A distância a auditoria já foi iniciada e se encontra na primeira fase de apuração, a chamada etapa analítica. Neste momento, o Denasus estuda o município, os serviços prestados e os repasses de recursos realizados para a Santa Casa. Além disso, uma série de documentos será solicitado a direção do hospital e a partir disso um plano de trabalho será montado.
Conforme o Diretor Nacional do Denasus, Rafael Bruxellas, o pedido de auditoria foi aceito com celeridade pelo Departamento devido à gravidade da situação com o comprometimento dos atendimentos a população. “A nossa equipe técnica fez a análise da denúncia e encontrou tanto competência quanto materialidade porque são recursos relevantes para a saúde do município e um serviço que deveria estar sendo prestado”, diz.
A etapa analítica deve durar entre 15 e 30 dias, após a conclusão dessa fase, uma equipe do Denasus será enviada para realizar a auditoria nas dependências da Santa Casa. Dependendo do que for encontrado, o tempo de investigação dos auditores no hospital pode variar. “É um departamento que tem um procedimento estabelecido de auditoria complexo, que fazemos com muita transparência e zelo para não correr o risco de prejudicar nem o auditado, nem a própria auditoria”, salienta Bruxellas.
O Diretor Nacional do Denasus salienta que o propósito do procedimento é subsidiar melhorias no funcionamento do hospital e o reestabelecimento pleno dos atendimentos de saúde. Todo o processo de auditoria pode levar de dois a quatro meses para ser concluído. “A nossa preocupação é que o serviço funcione e que a gente combata o desperdício de recurso público”.
Agravamento da crise
Segundo o prefeito de São Lourenço do Sul, Zelmute Marten (PT), a auditoria foi solicitada em razão de uma suposta falta de transparência da direção da Santa Casa sobre as contas do hospital. Pelo menos desde de 2023 há reclamações por parte da gestão municipal sobre a falta de prestação de balanços financeiros pela instituição, incluindo problemas no recolhimento de FGTS, que teria motivado cerca de 160 ações trabalhistas.
Em dezembro de 2024, a crise na Santa Casa foi agravada quando os médicos paralisaram os atendimentos eletivos diante atraso de pagamentos salariais desde outubro. Sem avanço para colocar os vencimentos em dia, cerca de 20 profissionais pediram demissão coletiva em março deste ano. Desde então, o hospital só realiza atendimentos de urgência e emergência.
A Santa Casa de Misericórdia de São Lourenço do Sul possui 109 leitos, dos quais 93 são colocados à disposição do SUS. Conforme o quadro de funcionários da instituição, antes da demissão coletiva, eram 36 médicos atuando no hospital. Com a suspensão de atendimentos, os pacientes estão sendo encaminhados para o hospital rural São João da Reserva, no interior do município, e para outras instituições da região.
A reportagem procurou o presidente da Santa Casa, Cristiano Altenburg, no entanto, não recebeu retorno até o fechamento desta edição.