Pelotas atingiu o menor índice de mortes violentas desde a criação da Delegacia de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), em 2012, nos primeiros cem dias: dois crimes. O ano mais próximo a esse foi em 2022 quando foram quatro assassinatos. Realidade que é vista por especialistas como reação à criminalidade urbana. Das vítimas, uma ainda não foi identificada, pois seu corpo foi encontrado carbonizado em um terreno baldio e a polícia ainda aguarda laudos periciais e testes de DNA para confirmar o nome. O último estava sendo considerado um desaparecimento, mas o corpo foi localizado na quarta-feira.
Conforme a Polícia Civil, no último domingo, dia 6, dois jovens foram rendidos e levados até a estrada da Gama. Sob a ameaça de arma, foram obrigados a pular na água da barragem Santa Bárbara. Felipe Borba dos Santos, 20, não sabia nadar e se afogou e, por essa razão, o caso passou a ser considerado um homicídio. Os dois tinham passagem pela polícia.
O cenário da criminalidade em Pelotas está atrelado, na visão do titular da 18ª Delegacia Regional de Polícia, Márcio Steffens, a uma conjunção de esforços. “É algo coordenado, com ações de médio, curto e longo prazo, ações pontuais, outras até de prevenção, que envolve outras instituições”, justifica. Pela Polícia Civil, o trabalho envolve desde a Delegacia de Homicídios com respostas rápidas aos crimes, uma repressão muito forte ao tráfico de drogas e a coordenação com as demais instituições, cada uma com sua competência. “É um trabalho permanente, a corda deve estar sempre esticada, para mantermos essa estabilidade”, ressalta.
Cenário complexo
Avaliar a redução da criminalidade em Pelotas, para a coordenadora do Curso de Direito da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) e professora de Direito Penal e Criminologia da Faculdade de Direito da UFPel, Ana Cláudia Lucas, não é uma tarefa singela, pois são vários fatores que podem contribuir para este contexto. A taxa de homicídios reduzida no nível que se encontra é bastante significativa se comparada a 2019 e permite levantar algumas hipóteses.
“É possível que haja uma contribuição decorrente das ações implementadas pelo Pacto Pelotas pela Paz, em especial das ações comunitárias, de mediação de conflitos e de prevenção da violência que são levadas a efeito”, comenta ela. Somado a isso, a atuação dos setores de segurança pública, através de operações que resultaram em prisões de lideranças do crime organizado também deve ser levada em consideração. “A migração para outras espécies delituosas também ocorre. Veja-se que Pelotas experimentou um aumento nos índices de violência contra mulher, tanto em feminicídios tentados, quanto consumados, dados estes que revelam uma espécie de violência que estava mitigada.” Só nos últimos dois anos foram sete e quatro mortes de mulheres respectivamente.
Migração da criminalidade
A professora observa ainda que outras formas de criminalidade, mais silenciosas, como extorsões, fraudes, estelionatos, em especial as praticadas por meio da tecnologia, também são capazes de movimentar a economia do crime. “O que me parece mais relevante, inclusive levando em conta a agenda histórica dos crimes de homicídio em Pelotas, é que com o tráfico de drogas mais bem regulado, há tendência de diminuição de disputas por domínios de pontos de venda, pode haver acordo entre facções ou termos o controle do tráfico nas mãos de uma única organização”, deduz. Para a especialista, isso gera impacto em crimes violentos do tipo homicídio. “Há, sim, uma reconfiguração no mercado do crime”.
Já o delegado Márcio Steffens considera cedo para afirmar que crimes cibernéticos refletem na redução dos crimes violentos. “É uma possibilidade. Mas não se tem ainda um estudo mais aprofundado sobre isso. É uma hipótese bem plausível, bem real.” Para o delegado, o tempo vai mostrar se é uma tendência, mas para a autoridade, parece que há uma nova realidade no perfil da criminalidade em Pelotas.
Dados de homicídios janeiro a 10 de abril
2019 – 17
2020 – 13
2021 – 8
2022 – 4
2023 – 10
2024 – 14
2025 – 2