O recente ataque a uma professora esfaqueada em uma escola de Caxias do Sul reacendeu o debate sobre violência no ambiente educacional. Em Pelotas, instituições investem em prevenção, com pesquisa de perfil estudantil e projetos contra bullying, mas a falta de suporte psicológico e a exposição a conteúdos violentos no mundo virtual revelam desafios comuns.
O vice-diretor da Escola Estadual de Ensino Médio (EEEM) Monsenhor Queiroz, Henrique Carvalho, está na escola há poucos meses e não percebeu, até então, grandes problemas em relação à violência. Porém, compartilha que precisou gerir situações mais desafiadoras em outros educandários da cidade, como agressão física e verbal entre alunos e professores. Os conflitos foram geralmente motivados por casos de bullying e discriminação.
Segundo ele, quando a escola tem uma organização bem estruturada e investe em projetos para prevenir esse tipo de violência, fica mais fácil lidar com as situações. “Trabalhar o respeito entre os alunos e como eles convivem é um fator crucial, e por isso é essencial acompanhar de perto o comportamento dos estudantes”, avalia o vice-diretor.
Quanto às estratégias para cuidar dessas questões, Carvalho destaca a importância da orientação educacional. Grande parte das escolas conta com o Serviço de Orientação Educacional (SOE), que trabalha em conjunto com a supervisão escolar, a equipe diretiva e os professores para combater a violência. É o caso da Monsenhor Queiroz, que também realiza reuniões com alunos, pais e professores, promove palestras e traz profissionais para abordar temas sensíveis.
Pesquisa de perfil estudantil
No início do ano, a diretoria do colégio aplicou um questionário para conhecer melhor o perfil dos alunos e, dessa forma, planejar as ações necessárias. As questões abordaram o quadro socioeconômico e educacional dos alunos, seus hábitos de estudo, motivações acadêmicas, dificuldades de aprendizado, além de aspectos psicológicos, como manejo do estresse e acesso a apoio emocional.
Segundo a coordenadora pedagógica da escola, Jossemara Theisen, foi possível observar que 31% dos estudantes gostariam de ter atendimento psicológico na escola, enquanto 9% já realizam terapia fora e 37% não sentem essa necessidade. “Infelizmente, não temos suporte da Coordenadoria Regional da Educação (5ª CRE) para oferecer esse tipo de atendimento clínico”, lamenta.
Além disso, a pesquisa expôs que o bullying ainda é um desafio a ser superado. As vítimas, em sua maioria, são alunos trans, gays, negros e de diferentes gêneros, apesar de todo o trabalho realizado para combater essa prática.
Conteúdos inadequados na internet
Carvalho também reflete sobre o impacto da internet no comportamento dos jovens, e relaciona o caso de Caxias do Sul à exposição livre a conteúdos inadequados. Conforme relata, por se tratar de uma escola de ensino médio, o nível de maturidade dos alunos da Monsenhor Queiroz já é um pouco mais avançado, o que não descarta a necessidade de olhar atento.
“Muitos deles reconhecem a importância do respeito e do convívio saudável. Nosso trabalho é reforçar essa conscientização e criar um ambiente escolar positivo”.
Programa Cipave em Pelotas
Uma das ferramentas do governo estadual e da Secretaria da Educação é o programa de Comissões Internas de Prevenção de Acidentes e Violência Escolar (Cipave). A atuação do constitui-se no acolhimento dos alunos com psicóloga, assistente social, Conselho Tutelar e Patrulha Escolar. “Devemos intensificar alguma atividade com os alunos e o núcleo”, garante a assessora do programa na 5ª CRE, Graziela Vasconcelos.
A adesão das escolas pelotenses à Cipave é de 100%, mas nem todas utilizam a plataforma para registro de ocorrências. Todas seguem um protocolo único, e a diferença está no grau de violência enfrentado por cada uma. Os incidentes mais frequentes registrados na plataforma são agressões entre alunos, casos de bullying e episódios de racismo. “A maior dificuldade é fazer os orientadores e equipes diretivas entenderem a importância de inserir os ocorridos na plataforma”, admite Graziela.
Medidas da prefeitura
A Secretaria de Educação (SME) realizou um diagnóstico da rede municipal de ensino para mapear desafios e embasar ações de combate à violência escolar. A supervisão do SOE coordena estratégias voltadas à prevenção e identificação dos tipos de violência presentes nas escolas. O Centro de Intervenção e Mediação Escolar (Cime) tem realizado atividades em escolas para promover diálogos e encaminhamentos sobre o tema.
As medidas incluem parcerias com órgãos de segurança e justiça para implementar programas de prevenção, palestras e um Plano de Emergência Escolar. Também estão em andamento ações de manutenção dos espaços, capacitação de profissionais e incentivo a atividades culturais e esportivas. Além disso, a SME atua junto ao Programa Saúde Escolar e a iniciativas voltadas à saúde mental de crianças e adolescentes.