Conservador-restaurador formado pela Universidade Federal de Pelotas, o multirestaurador Fábio Galli começou nesta área no Ateliê Mansão de Arte, em Porto Alegre, há mais de 25 anos. Em Pelotas atuou em obras do patrimônio edificado, como a casa sede do Instituto João Simões Lopes Neto, o Casarão 8 da praça e a residência do Senador Joaquim Augusto Assumpção.
Atualmente é funcionário concursado do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (Malg/UFPel), onde atende diferentes necessidades da entidade, como a curadoria da reserva, junto com a museóloga. Ainda atua na limpeza e manutenção das molduras de estuque, das embalagens de papel, dos móveis e tecidos, além de fazer restauros pontuais. Tem expertise em mapas, peças arqueológicas, colagem de vidros e reconstituição de móveis dourados.
Como você define a arte do restauro?
É uma arte que envolve muita sensibilidade e muito conhecimento. Porque quando tu tens uma obra de arte que pode ser móvel ou integrada, tem que ir atrás desse conhecimento. E, a partir daí, tu vai começar a ver algumas questões que são claras na nossa modernidade. Eu me considero um diletante das artes. Por que eu digo isso? Porque aprecio, pesquiso, observo. Na minha biblioteca, eu tenho em torno de 300 livros sobre conservação e restauração. E, olha, eu posso dizer que mais uns 300 só de arte.
Como você inicia um trabalho de restauro? Quais são os primeiros passos?
Quando eu me debruço num restauro, eu começo com essa observação sensorial, para depois fazer os exames, o registro fotográfico, a pesquisa, que é muito importante. E neste tempo aí eu vou conversando, posso dizer, com a obra. Eu vou entrando nela, inclusive, não é incomum se achar detalhes que até que o próprio proprietário não viu. Ou no caso do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo, onde eu tenho prazer de trabalhar, detalhes na obra de certos artistas que também a gente vai observando pela continuidade. Então, o trabalho de um restaurador é a continuidade, isto é muito importante.
Para você restaurar é trazer o objeto do trabalho a seu estado de novo?
Será que eu quero esta obra com a marca das suas passagens, mantendo todas as características? Inclusive, restauros anteriores. Ou se eu vou discutir com o proprietário o que ele quer?
Eu já tive obras que, por exemplo, era indicado uma certa remoção do verniz, mas a pessoa não quis. Eu examinei o verniz, limpei e mantive com aquela cor sépia. Porque a obra carrega uma parte tanto da memória, do gosto e também do que a pessoa está vivendo há tanto tempo. Quando, por exemplo, removemos o verniz a obra vai lá ‘no osso’, o que eu acho muito perigoso. Com a limpeza muito profunda podemos quebrar algo que é um fator importantíssimo na conservação desse objeto, que está ali estável. Nenhuma intervenção, no caso do restauro, é inocente, assim como também não é definitiva. Quando a gente restaura uma obra, temos que pensar que ela vai além deste momento, vai seguir viva. Temos que pensar numa maneira que seja removível, que seja retratável. A limpeza não é reversível. A gente já pensa de uma forma mais na questão de retratabilidade, ou seja, poder remover aquele restauro sem causar danos à obra, que é um dos limites que podemos ter.
Como é o seu trabalho no Malg/UFPel?
Sou conservador-restaurador do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo, onde podemos dizer, é uma explosão da mente devido à grande tipologia, dispersão artística, mobiliário, peças em cerâmica, etnográficas, em gesso, louças, tecidos, livros, material de pintura e mais outras milhões de coisas. Então, é um trabalho, junto com a museóloga, num acervo de em torno de cinco mil obras. Desenvolvemos uma metodologia de pesquisa, de produção de documentos. Qualquer intervenção é documentada. Produzimos fichas de avaliação, de proposta de conservação, do que foi feito na obra. Isso nos gera uma informação enorme e uma observação constante da variedade de materiais. É um trabalho constante no Museu.