A partir de amanhã, qualquer produto brasileiro exportado com destino aos Estados Unidos será taxado em ao menos 10%. Com as restrições, o Brasil deve ter alguns setores enfraquecidos, mas observa que a briga comercial mundial pode potencializar novos acordos com mercados alternativos.
“O efeito líquido [das novas tarifas] pode até ser positivo para o Brasil, especialmente se houver retaliações da China e da Europa, que podem redirecionar suas demandas para o Brasil. Com produtos brasileiros menos taxados por Trump, o país pode ganhar competitividade e aumentar suas exportações para China e União Europeia, especialmente no setor agropecuário”, avalia o economista Ricardo Aguirre Ávila.
Gustavo Feddersen, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), explicou, em entrevista recente ao A Hora do Sul, que a medida faz parte do plano protecionista norte-americano. Conforme ele, “Trump vai forçar com que as empresas voltem a abrir fábricas e indústrias nos Estados Unidos”, a partir de tarifas e sanções para o mercado internacional.
Novos mercados
Com o protecionismo norte-americano, o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, debatido internacionalmente há anos, volta a ganhar força. A consolidação de relações comerciais com mercados alternativos foi tema de conversas na Feira de Hannover, na Alemanha, onde diversos líderes empresariais e políticos estiveram presentes.
Presente no evento, o presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Claudio Bier, afirma que “este novo cenário nos obriga a superar os desafios e explorar as oportunidades que surgem, como do Mercosul com a União Europeia ou da ampliação da parceria com a China”.
O economista Adalmir Marquetti, avalia que o Brasil tem condições de conquistar novos mercados. “Acho a viagem do presidente Lula (PT) para o Japão e para o Vietnã importante no sentido de buscar novos parceiros comerciais, de intensificar nossas relações com esses países que estão crescendo, estão se tornando importantes na economia mundial”, argumenta.
Redução nas exportações
Apesar de ter cautela quanto aos impactos das taxações, Bier destaca que um dos efeitos imediatos da decisão de Trump para o Brasil e o Rio Grande do Sul pode ser a redução no volume de exportações para os EUA, especialmente em setores integrados à indústria norte-americana, que atualmente já aplica uma tarifa de 25% nas importações de aço e alumínio.
Conforme ele, a elevação de custos para os consumidores americanos por conta das tarifas pode dificultar cortes de juros nos Estados Unidos e encarecer insumos para a indústria brasileira, especialmente no RS.
Augusto Vaniel, presidente do Centro de Indústrias de Pelotas (Cipel), avalia que as medidas de Trump podem causar impacto no setor local, mas que novas relações internacionais devem ser criadas. “Acho que possa ter mercado a ser atingido. Nós temos intenção de abrir novos mercados”, afirma.
Porto de Rio Grande
Em relação à exportação, o porto de Rio Grande é um dos principais parceiros comerciais norte-americanos. Somente em 2024, mais de 892 mil toneladas de produtos saíram do complexo rio-grandino com destino aos Estados Unidos. Em 2022, o número de movimentações bateu recorde e chegou a 986 mil toneladas. A expectativa é de que a partir de novas parcerias comerciais, a movimentação deve permanecer estável.