São inacreditáveis as imagens capturadas pelo fotojornalista Jô Folha na antiga Chácara da Brigada Militar. Um espaço histórico para todo o significado da comunidade negra de Pelotas tornou-se um convite para a criminalidade. Mais do que entender o que ele representa, é preciso entender o que a população quer dali. E a ideia trazida pelo representante do Museu do Percurso Negro de Pelotas, Luis Carlos Mattozo, complementa diversas frentes necessárias.
Há bastante tempo os grupos de resgate da memória negra de Pelotas trabalham em cima da ideia de reforçar os valores culturais, muito além do sofrimento da escravidão. Afinal, Pelotas é uma cidade construída por mãos negras, que tem isso em seu retrato. Passa, inclusive, pelo sabor do tradicional doce, pela arquitetura, pela economia, pela religiosidade e tudo mais.
E entender que o espaço da chegada do escravizado no município – e uma das portas de entrada da escravidão na América do Sul – possa ser transformado em um museu é aceitar que a história deve ser lembrada, compreendida e ensinada para que não se repita. Dela é preciso tirar lições. O mesmo é feito com as memórias do holocausto na Europa, por exemplo.
O que não pode é termos um espaço assim sendo usado para os fins que são hoje. Travado pela burocracia, ele pertence à União que parece não ter ideia do que fazer com a área. É um chamariz para a criminalidade – na terça-feira mesmo noticiamos que um homem foi vítima de violência no local, isolado e de fácil acesso.
Pelotas tem, muito além da Chácara da Brigada, opções de entender seus espaços históricos e culturais e dar novo significado. Seja com o objetivo turístico, educacional ou mesmo de valorização de áreas, temos ainda muito o que aprender para deixarmos de ser uma cidade que tem na sua história um de seus motores e, ao mesmo tempo, costuma ignorá-la constantemente. Temos, nesse caso, exemplo claro do que é, do que foi e do que pode ser. Agora é preciso agir e compreender.