Duelo de narrativas empobrece debate

Opinião

Douglas Dutra

Douglas Dutra

Jornalista

Repórter e colunista de política do A Hora do Sul | [email protected]

Duelo de narrativas empobrece debate

Por

No último mês, a Câmara de Pelotas mergulhou em um debate acalorado sobre drogas. Sessão após sessão, vereadores reproduzem os mesmos argumentos a favor ou contra a legalização. Apesar de algumas tentativas de levar a discussão rumo ao bom senso, claramente nenhum parlamentar mudou um milímetro de suas convicções.

Os discursos servem, basicamente, para cativar a própria base em cortes para as redes sociais. Seguindo a dinâmica das redes, ninguém ouve ninguém. A possibilidade de o argumento oposto ter qualquer grau de razão é descartada sumariamente enquanto o objetivo não passa de uma vitória retórica.

O tema da legalização das drogas acende paixões. Sim, é verdade que a maconha tem um potencial medicinal ainda pouco explorado e que é uma substância com um risco de dano muito menor do que substâncias mais pesadas, como a cocaína e o crack. Negar isso é ir contra as evidências científicas.

Também é verdade que, especialmente em contextos de marginalização e pobreza, as drogas em geral fazem mal e podem destruir famílias – e isso também se aplica ao álcool. Além disso, o mercado ilegal, incluindo o de maconha, financia o tráfico e a violência que tira vidas, sobretudo de pessoas negras e pobres nas periferias. Negar isso é desprezar o sofrimento que milhares de pessoas vivem diariamente.

Os opositores da vereadora Fernanda Miranda (PSOL) erram ao generalizar e colocar a maconha no mesmo balaio de todas as outras drogas, simplificando um tema que é complexo. Já os apoiadores da vereadora erram ao vaiar Michel Promove (PP) que, a partir da própria vivência, fala da tragédia que as drogas causam nas famílias periféricas, como se sua experiência não fosse legítima.

Toda essa polêmica pode ser ótima para políticos tentando capitalizar eleitoralmente, tanto no campo progressista quanto no campo conservador, mas a discussão rasa empobrece o debate sobre drogas e não contribui em nada para as necessidades reais da população.

Acompanhe
nossas
redes sociais