Com o Pelotas já rebaixado e o Brasil precisando vencer o Avenida por no mínimo três gols de diferença para evitar o mesmo destino, a dupla Bra-Pel termina o Gauchão longe dos objetivos e calcula os prejuízos em diversas frentes. Além da perda de protagonismo esportivo, a queda da elite para a segunda divisão estadual costuma causar um corte superior a 50% na arrecadação.
Nas últimas duas temporadas da primeira divisão, o valor destinado aos clubes do interior girou em torno de R$ 1 milhão, montante oriundo da empresa detentora dos direitos de transmissão. Por outro lado, na Série A-2 só tem sido feito um repasse de aproximadamente R$ 80 mil, por parte da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), para custear despesas dos times com hospedagem e transporte, por exemplo.
O presidente do Santa Cruz, Tiago Rech, está enfrentando os impactos do rebaixamento que o clube não conseguiu impedir no ano passado, logo após voltar à elite. O mandatário do Galo estima que, além do dinheiro da cota de televisionamento, cerca de R$ 500 mil vão deixar de entrar nos cofres com a considerável diminuição do pagamento feito por empresas parceiras.
“A gente está tentando a renovação de alguns patrocínios, a maior parte deles em valores menores porque diminui a visibilidade da TV. Então, com certeza, um milhão e meio de reais você deixa de arrecadar para jogar uma Divisão de Acesso”, diz o dirigente do Santa Cruz, clube que já deu os primeiros passos para avaliar a possibilidade de transformação em Sociedade Anônima do Futebol (SAF).
Remobilização da torcida
No caso do clube do Vale do Rio Pardo, Rech enxerga outro desafio: o engajamento de torcedores, conselheiros e dirigentes depois da frustração do descenso. O presidente assumiu o cargo em julho de 2024, quase cinco meses após o rebaixamento, e vê dificuldade para reunir a comunidade apaixonada pelo Santa Cruz.
“É algo que eu não desejo para ninguém, é muito complicada a mobilização depois da queda. […] Está cada vez mais difícil fazer futebol no interior. A situação é bem desesperadora, no sentido de começar toda uma mobilização e busca de recursos, patrocínios, para uma competição novamente”, lamenta o mandatário do Galo.
Apesar do panorama delicado, entretanto, existem saídas. Um exemplo de sucesso vem de Bagé. Em 2019, o Guarany disputava a Terceirona Gaúcha. Hoje, tem confirmada para 2026 a terceira participação seguida na elite estadual e está na Série D do Brasileirão não apenas da atual temporada, mas também da próxima. Sem falar no avanço à segunda fase da Copa do Brasil – enfrenta o Athletico (PR) nesta quinta-feira, em Curitiba.
“A nossa torcida modificou o perfil a partir de 2015, 2016. E eu vejo muitos comentários, principalmente na crônica de Pelotas, que o torcedor está cansado de viver dificuldade. Bom, se está cansado de viver dificuldade, não é torcedor, é um aproveitador da onda quando está boa. As torcidas do Pelotas e do Brasil são gigantes”, diz o presidente do Guarany, Tato Moreira.
Mais longe dos nacionais
Na segunda divisão estadual, escalar as divisões nacionais fica ainda mais complicado. Via Gauchão deste ano, Brasil e Pelotas não conseguiram garantir vaga na Série D nem na Copa do Brasil de 2026. Ainda é possível assegurar presença na quarta divisão do Brasileirão pois, nesta temporada, o campeão da Copinha da FGF se classifica para a próxima Série D. A presença da dupla Bra-Pel na Copinha, porém, segue incerta. O torneio começará em setembro.
Sob a ótica de Tiago Rech, a falta de calendário nacional também prejudica a montagem dos elencos de clubes nessa situação. De 2021 a 2024, cinco dos oito rebaixados no Gauchão não tinham competição para disputar fora do Estado na sequência. É o caso do Pelotas tanto no descenso anterior, há quatro anos, como agora.
“A gente nota que essa ideia de futebol só três meses é complicada. […] Assim como foi o Santa Cruz do ano passado, existe uma dificuldade de contratar jogador para jogar tão pouco tempo. […] Fazer todo esse esforço para subir e ficar só três meses e cair de novo não vale a pena”, reflete o presidente do Galo.
Com relação ao calendário, a temporada na Série A-2 demora mais para começar. Se o Gauchão inicia em janeiro, a Divisão de Acesso, que vinha tendo pontapé inicial em abril, neste ano será aberta em 17 de maio, com término em 31 de agosto. Há um debate sobre outras novidades, como um possível modelo de turno único na primeira fase.
Volta por cima
O tombo encarado agora pelo Pelotas é o mesmo vivido no estádio Estrela D’Alva em 2022, quando o Guarany caiu com só uma vitória em 11 jogos. Tato relembra que o clube de Bagé manteve o departamento de futebol. “Tu tem que ter muito cuidado para dizer o que que tu queres fazer. Querer fazer é uma coisa, conseguir é outra”, afirma.
“O que a gente tirou do nosso processo aqui, que existiu, foi que ninguém desistiu do processo. Nós caímos para a Divisão de Acesso. A nível financeiro, tivemos uma queda de mais de 50% porque quando tu rebaixa é um castigo que tu está pagando. É um castigo porque tu não atingiu tudo o que tu estabeleceu”, analisa o presidente do Guarany.