“Kung Fu é qualquer habilidade adquirida através de esforço e trabalho árduo”

Abre aspas

“Kung Fu é qualquer habilidade adquirida através de esforço e trabalho árduo”

Jorge Dillenburg Garcia - Filósofo e mestre em Educação

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“Kung Fu é qualquer habilidade adquirida através de esforço e trabalho árduo”
Projeto recebeu a honraria do Mérito Desportivo na Câmara de Vereadores. (Foto: Mike B. Dilelio)

O projeto Pequeno Louva-a-Deus nasceu para aproximar o Kung Fu do desenvolvimento de pessoas autistas. Com o tempo, a iniciativa cresceu para incluir outras neurodiversidades e deficiências, tornando-se o “Kung Fu para Neurodiversidade”. Criado por Jorge Dillenburg Garcia, filósofo e mestre em Educação, o projeto começou na Academia LaoShan de Kung Fu e tem o reconhecimento do SiKung Li Hon Shui. Há cerca de três anos, vem se expandindo por meio do envolvimento com famílias, terapeutas e novas abordagens para o desenvolvimento dos alunos.

Como a prática do Kung Fu impacta o desenvolvimento de alunos neurodivergentes?

Um dos primeiros elementos do Kung Fu é a noção de disciplina – e, muitas vezes, essa ideia está associada a uma disciplina mais “rígida”. No entanto, o modelo disciplinar do Kung Fu vai além da simples obediência a ordens. O acesso a essa concepção mais ampla é uma de nossas principais conquistas: o respeito às figuras de autoridade, como o SiFu e os demais irmãos de treino; a compreensão e o controle dos próprios limites e dos limites dos outros durante as atividades em grupo; a atenção à empatia na execução das tarefas e na organização do espaço. Além disso, a importância das rotinas para a organização pessoal, tanto no contexto da neurodiversidade quanto de forma mais ampla. Também existem benefícios como o desenvolvimento do equilíbrio, da força, da tranquilidade, do senso de coletividade, além do exercício da resiliência diante da frustração e do controle das emoções.

Quais adaptações foram feitas no ensino do Kung Fu para atender às necessidades dos alunos?

O projeto é voltado aos aspectos tradicionais do Kung Fu. É no diálogo com pais e responsáveis e nas terapias dos jovens que conseguimos pensar atividades que respeitem o nível de suporte de cada um e estejam ligadas aos treinamentos tradicionais. Por exemplo, para um aluno que apresente insegurança gravitacional a base da garça (equilibrar-se num pé só) primeiro se investe no ganho de confiança; mais adiante essa base se torna um chute, e a confiança antes conquistada abre lugar ao desenvolvimento muscular das pernas e a destreza dos movimentos dos membros inferiores. Tudo começa por uma base tradicional. O que difere são os níveis de suporte e o grau de abstração necessário ao se olhar para uma ou outra técnica.

Quais são os maiores desafios enfrentados na expansão do Projeto Pequeno Louva-a-Deus?

Em 2023, o Projeto Pequeno Louva-a-Deus foi agraciado pela medalha de Honra ao Mérito Desportivo pela Câmara de Vereadores da Cidade de Pelotas. Esse foi um momento de extrema alegria e questionamento, pois me peguei pensando que o projeto estava tomando dimensões que eu mesmo não havia pensado. De modo específico, o único desafio do projeto no momento é a própria forma de pensar da arte marcial como um todo. Tanto nas redes sociais quanto na vida cotidiana, a arte marcial ainda parece muito voltada a seus aspectos de pura marcialidade. Mas essa prática é arte também. E acredito ser apenas por essa abertura que os profissionais responsáveis das academias poderão expandir e otimizar seus ambientes, reinventando práticas e abraçando aquilo pelo qual insisto com meus alunos todos os dias: “Kung Fu é qualquer habilidade adquirida através de esforço e trabalho árduo”.

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