A prisão de Misael da Cunha, acusado de desvios de recursos do Pronto Socorro de Pelotas, não é o fim de um ciclo. Talvez seja até o início dessa história. Afinal, muitas perguntas precisam ser respondidas, a principal delas é: ele agia sozinho? Mas também há que se entender como um indivíduo, indicado politicamente, teve tanta facilidade para desviar recursos públicos. Não fosse um olhar atento, talvez teria passado tranquilamente toda a situação.
Não é nem questão de entrar no mérito de que roubar da saúde é ainda pior do que roubar, um argumento que ressoa dentro deste assunto. Mas cabe a reflexão sobre a saúde da cidade, tão cambaleante há tanto tempo, com enormes filas de espera e, ainda assim, todos os indícios de que houve quem não tivesse pudor algum de desviar recursos. Não houve sequer um olhar caridoso sobre cada pessoa que padece na fila do Pronto Socorro, cada família que sofre no corredor, cada cidadão que não teve para onde ser alocado. Quem deveria zelar pela saúde, pelo que temos até aqui, não se importou.
É importante manter a cobrança e olhar atento para que essa situação não pare por aqui. É preciso investigar mais afundo e explicar se, afinal, ele agia sozinho, como conseguiu agir e outras tantas perguntas. E precisa ficar o aprendizado de criar mecanismos que freiem esses crimes antes mesmo de acontecerem. A mera tentativa já deveria ser identificada. Mesmo que, até aqui, tanto órgãos de segurança quanto políticos tenham atuado para punir e frear o caso PS, ele sequer deveria ter acontecido em um primeiro momento.
Pelotas vive, com essa prisão, mais um capítulo triste dessa história suja envolvendo crimes contra a saúde. Deve levar adiante, como exemplo sempre, o ensinamento que essa situação deixou também na política: é preciso refletir muito antes de colocar alguém em um cargo de confiança com amplo acesso.