“Eu queria mexer com um tipo de música que eu tivesse total autonomia”

Abre aspas

“Eu queria mexer com um tipo de música que eu tivesse total autonomia”

Cantor e compositor, Luciano Mello tem composições gravadas por grandes nomes brasileiros

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“Eu queria mexer com um tipo de música que eu tivesse total autonomia”
Músico pelotense tem duas músicas gravadas por Elza Soares. (Foto: Patrick Tedesco)

O músico pelotense Luciano Mello tem como identidade a mistura das referências da MPB e da música popular gaúcha com experimentações eletrônicas que já renderam cinco álbuns gravados e outros dois praticamente prontos para serem lançados. No currículo, traz duas composições gravadas por Elza Soares e parcerias com Marina Lima, Vitor Ramil e Banda Cê.

Como surgiu tua relação com a música?

Eu tinha a música muito presente na família e cresci no meio de discos. O que abriu os caminhos da minha vida para eu entender a arte foi o disco Drama 3º Ato, da Maria Bethânia, que é um álbum ao vivo de 1973 em que ela fala poemas do Fernando Pessoa, da Clarice Lispector, canta Caetano, Chico, Caymmi, tudo que tu precisas para te letrar em música. A partir daí, eu ia pra biblioteca do colégio para ver quem eram esses autores. Depois tentei estudar no Conservatório, e na minha segunda ou terceira aula de piano eu mostrei uma música que tinha feito e disseram que tudo que é bom já estava feito e que eu aprendesse os verdadeiros compositores, obviamente durei pouquíssimo, mas a teoria musical eu fiz até o fim. Eu queria mexer com um tipo de música que eu tivesse total autonomia, e na minha adolescência descobri os sintetizadores, sequenciador e bateria eletrônica e fui começando a trabalhar com isso.

Como é ser um artista independente fora dos grandes centros?

A opção de ficar fora dos grandes centros foi uma grande mancada minha. Pelotas estava desde os anos 1970 sem um estúdio profissional, e nos anos 1990 consegui uma sócia e fizemos a Sonar áudioproduções em Pelotas, e a partir daí aprendi tudo e comecei a me produzir e a produzir outras pessoas. Depois, fiz meu primeiro disco com um amigo em uma banda de industrial music que se chamava Zurbe. Meu primeiro álbum solo (Universo Barato) só saiu mesmo em 2007 graças ao Fumproarte em Porto Alegre, com uma equipe de 80 pessoas.

Como foi ver uma música tua ser gravada pela Elza Soares?

Um dia recebi um telefonema do produtor da Elza dizendo que ela queria gravar uma música minha, que fosse parceria com o Pedro Loureiro, que falasse que todo mundo tem sua quantia mulher, e que no dia que essa mulher sair de dentro de cada um, o mundo muda. Quando o disco entrou no Spotify, eu ouvia, ouvia e não caía a ficha. Isso não tem retorno, a Elza gravou uma música minha, não tem como desgravar, é para sempre. No show de estreia, quando a Elza canta a minha música, a plateia vem abaixo no refrão, aí me acabei de chorar. Um ano depois, em Lisboa, ela para o show e diz ‘o Luciano Mello está na plateia’, meus amigos me apontaram, as pessoas me abraçaram, foi lindo. No ano seguinte, ela pediu mais uma música, que era ‘Lírio Rosa’, também com o Pedro Loureiro.

O que vem pela frente?

Eu fiz um álbum em Portugal, que eu tinha duas opções: ou seria um álbum de voz e piano ou seria para uma grande orquestra. Não rolou o lance da grande orquestra porque Portugal entrou numa vibe perigosa de entender que os estrangeiros estão sugando, enquanto a gente que morava lá pagava altíssimos impostos e faz a economia girar, começaram a entender que não deveriam mais financiar projetos. A partir daí, se não tenho grana para gastar lá, eu volto. Ele já está gravado com voz e piano. O segundo álbum estou terminando de colocar as vozes, é um disco que uso a linguagem da música pop eletrônica de uma maneira slow. Provavelmente eu vá lançar os dois juntos em maio. São discos antagonistas, um está olhando para um Brasil que não se vê como Brasil, que é o extremo sul, e outro está olhando para um Portugal que não é que se espera, que não é Lisboa.

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